quinta-feira, 11 de abril de 2019

Ideologia de botequim pode custar caro

A entrevista com o ex-Chanceler Celso Amorim é muito interessante. Ele não se atém apenas a uma análise dos problema na e com a Venezuela, mas a toda a ação diplomática que começou a ser desenhada no (des)governo Michel Temer, e que se aprofunda agora com a assunção de Bolsonaro à Presidência da República.

Vou apenas aprofundar uma crítica "comedida" de Celso Amorim ao alinhamento automático e acrítico com os EUA. Isso não é apenas prejudicial ao país em todos os sentidos. Isso é estúpido, porque os interesses do Brasil são, em grande parte, antagônicos aos dos norte-americanos. Não que sejamos inimigos do grande estado do norte, mas temos interesses próprios, e eles não são os deles. E pior, eles não irão nos compensar em absolutamente nada por esse alinhamento patético.

Com isso quem sofre são os brasileiros, que no fim das contas, são a Nação Brasileira.

O link para a reportagem completa está no título abaixo.



O ex-chanceler Celso Amorim durante entrevista para o UOL, em 2017 (Bruna Prado/UOL/Folhapress)

GENEBRA  – Em entrevista exclusiva ao blog, o ex-chanceler Celso Amorim faz uma avaliação da política externa do governo de Jair Bolsonaro e alerta para os riscos de uma intervenção americana na Venezuela. "Uma mudança imposta ou estimulada de fora, inclusive com a ameaça do uso da força, é ilegítima e inaceitável. Hoje é lá, amanhã pode ser aqui", destacou o embaixador. O diplomata conduziu o Itamaraty entre 2003 e 2011 e, no governo de Dilma Rousseff, ocupou ainda a pasta da Defesa. Eis os principais trechos da entrevista:

Durante a campanha eleitoral, em 2018, a política externa praticamente não existiu nos debates. Mas, desde janeiro, um dos principais pontos da agenda do novo governo tem sido sua postura internacional. De uma forma geral, como o sr. avalia as mudanças nas diretrizes da política externa brasileira e na forma pela qual está sendo conduzida?

Celso Amorim – Vejo com muita preocupação a forma como a política externa vem sendo conduzida. Já durante a administração Temer, o Brasil havia perdido o protagonismo que alcançara em governos anteriores. A suspensão da Venezuela do Mercosul, que contribuiu para isolar (e, portanto, radicalizar) o nosso vizinho foi um erro diplomático sério, assim como a pouca atenção à América do Sul e a desativação da Unasul, que nos privou de um instrumento útil para encaminhar soluções pacíficas para disputas internas e entre países da região.

No plano mais amplo, a participação do Brasil em grupos como BRICS e o G-20 se tornou inexpressiva. O Brasil deixou de ser um ator global. Mas isso é pouco se se compara ao que tem sido anunciado e, em certa medida, realizado pelo governo atual, com sua adesão acrítica à visão política dos Estados Unidos (ou mais especificamente ao trumpismo) e a proclamação de uma cruzada contra inimigos imaginários, como o "marxismo cultural" ou o multilateralismo destruidor de soberanias. Mesmo que se tratasse apenas de uma questão de retórica, isso já seria grave, pois em política – e, especialmente, em política internacional – as palavras contam. Estamos assistindo a algumas ações concretas que vão nessa linha equivocada, desde a rejeição do Pacto Global sobre Migrações e a diminuição do interesse na questão climática, com a retirada do oferecimento do Brasil como sede da próxima COP (além da possível saída da Convenção de Paris) até o apoio incondicional às políticas norte-americanas de mudança de regime na Venezuela e de isolamento do Irã. Essas e outras posturas contrastam não apenas com as dos governos Lula e Dilma mas também com aquelas de praticamente todos os governos democráticos, desde a Segunda Guerra Mundial.

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