terça-feira, 30 de abril de 2019

Você não é empreendedor, é explorado mesmo

Isso é algo que eu sempre de forma resumida, e que Léa Marque explana muito bem no artigo abaixo. 

Eu digo sempre o seguinte: quando alguém perde o emprego, não tem nenhuma perspectiva de conseguir outro, e aí consegue uns ingredientes, faz duas dúzias de coxinhas, e vai para a esquina tentar vender, isso não é empreendedorismo, isso é desespero de causa pela sobrevivência. Às vezes pode até dar certo, mas quase nunca.

Empreendedorismo é você ter uma ideia, de preferência, mas não obrigatoriamente, inovadora, mas necessariamente mais estruturada do que uma barraquinha de coxinhas na esquina. 

E em estruturada queremos dizer que há método elaborado, objetivos, de curto, médio e longo prazos, técnicas e esquemas de produção, distribuição e vendas que ultrapassam a mera percepção intuitiva.

Como sempre o acesso a todo o artigo no título do mesmo.

"Não existe empreendedorismo, mas gestão de sobrevivência", diz pesquisadora


Incentivar o 'espírito empreendedor' do trabalhador é um meio para tornar legal a precarização do trabalho, aponta Fundação Perseu Abramo.
A reportagem é de Felipe Mascari, publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 26-02-2019.
Jornadas longas, péssimas condições de trabalho, pouquíssimos direitos assegurados e insegurança sobre o futuro. Essas são as dificuldades apontadas por trabalhadores informais, que vivem sob a ótica do "incentivo empreendedor". Para pesquisadoras da Fundação Perseu Abramo (FPA), o termo "empreendedorismo" deveria ser substituído por "gestão da sobrevivência".
O incentivo para que o trabalhador se torne "empreendedor" é um meio para formalizar a precarização do trabalho, aponta um estudo publicado pela FPA, que ouviu manicures, domésticas, motoboys, ambulantes, costureiras e trabalhadores do setor de construção civil.
A cientista social e coordenadora executiva da pesquisa, Léa Marques, explica que a precariedade do mercado se relaciona a diversos aspectos, como a "uberização" do emprego, a incapacidade de organização coletiva e os efeitos da reforma trabalhista.
"Esse discurso do tal empreendedorismo é mais uma forma da precarização do trabalho. Isso se dá para os trabalhadores das periferias, que estão longe dos centros comerciais e precisam lidar com o mercado de trabalho sem nenhum direito. Esse discurso do empreendedor é para que o Estado não tenha responsabilidade sobre políticas públicas de emprego e renda", explica à RBA.
Já a socióloga e supervisora da pesquisa, Ludmila Costhek Abílio, lamenta que nos períodos de crise, a informalidade se torne a única opção para o trabalhador. "Nós vimos, por meio das entrevistas, que há uma 'uberização' do trabalho. São novas formas de organização da informalidade e que atingem diversas ocupações. É preciso desconstruir o discurso do empreendedorismo, de quem alcançaria o sucesso sozinho."

Formal em um dia, informal no outro

A pesquisa da Fundação Perseu Abramo aponta que o trabalhador vive num trânsito constante entre o trabalho formal, informal e outras atividades remuneradas. 
De acordo com Ludmila, o estudo mostra que o mercado formal e o informal são dois campos estáticos. "As pessoas fazem um monte de coisa ao mesmo tempo para garantir a sobrevivência. O motoboy usa o trabalho dele para ser sacoleiro também, a costureira abre um brechó na casa dela. São várias formas de garantir a própria sobrevivência", pontua.

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