terça-feira, 6 de julho de 2021

O Cabo, a CPI, o Palácio, a eleição, e o futuro do país

Na semana passa o depoimento do Cabo da PM de Minas Gerais, Luiz Dominghetti, abalou não apenas a CPI e sua condução, mas o próprio Cabo também se enrolou com suas histórias. Reuniões com altos funcionários da administração pública, pedidos de propina de USD 1 por dose, denúncias a Deputados, Coronéis da Reserva da PM MG, vacinas que não existem sendo vendidas, a aproximação do MS através de um pastor, uma empresa estranha num país estrangeiro e suspeito, uma prova em que foi identificada adulteração no próprio local da CPI (sou seja, com meios precários de análise técnica), demissões, respingos ferventes em Pazzuelo, e um Policial Militar exercendo atividade ilegal, e finalmente a reviravolta da acusação de Dominghetti ser um "cavalo de troia".

UFA! Muita coisa para uma fofoca só.

Vamos àquilo que é muito importante, e que Reinaldo Azevedo chama de ICI, ou índice de coincidências incríveis. O esperto Cabo PM começou a trabalhar paralelamente, informalmente (e ilegalmente) como intermediário de medicamentos há 1 ano e meio, e apenas no ano de 2021 como intermediário na venda de vacinas. Interessante que o (des)Governo começou um pouco antes, que há fortes indícios de ligações desse (des)Governo com grupos milicianos e PMs, e que há fortes indícios de que estas fraudes, ou tentativas de, têm ligações com figuras íntimas do círculo de poder do líder supremo e sua família, e de sua alugada base de apoio, tendo inclusive algumas das figuras citadas nesse atabalhoado depoimento tendo sido indicados por Eduardo Pazuello (sic), o incompetente especialista em logística.

Mas com essas atividades paralelas o Cabo acabou envolvido num esquema "estranho", em que se pedia superfaturamento de USD 1 para cada dose de vacina da AstraZeneca, em uma negocição que envolveria 400 milhões de doses. Ora os grandes laboratórios não negociam - ao menos oficialmente - sem que seja diretamente com Governos centrais ou seus legítimos prepostos - como a Fiocruz. Isso é mais que sabido por autoridades de saúde. De onde esses altos funcionários do MS tiraram a ideia de que um Cabo PM teria contatos com uma empresa suspeita e que estes teriam 400 milhões de doses para vender ao governo brasileiro, ainda mais com o pagamento de propina?

Aí o zeloso Cabo denunciou o esquema, ou tentativa de esquema - a simples tentativa já é crime - pra um Coronel da Reserva da PM, e para um parlamentar do baixíssimo clero. Por óbvio nada foi feito sobre o assunto.

Da mesma forma essas essas tentativas de tratativas eram feitas em locais públicos, mas onde os sistemas de vigilância já não mantém mais registro do que ocorreu em suas dependências devido o tempo decorrido entre os encontros e a denúncia.

O sujeito ainda leva um áudio adulterado como prova para a CPI. O áudio tenta comprometer o Dep. Luiz Miranda, aquele que na outra semana fez pesadas acusações de corrupção dentro do MS de Pazuello, acusações essas que banhavam diretamente o líder supremo. Isso é uma claríssima tentativa de desacreditar Luiz Miranda. Mas por que alguém se arrisca a ser preso, a tentar plantar uma prova falsa que desacredita alguém numa investigação parlamentar, se o que esse alguém falou não é verdade?

Com isso tudo, a acusação de atividade paralela que o Cabo exercia de forma informal, e também ilegal, não passa de uma cerejinha nesse bolo, e que só enrola a ele mesmo, e a quem o contratou.

Mas as acusações de ter sido usado como cavalo de troia (estaria mais para burro), bem essas têm que ser muito bem investigadas, porque seria mais uma tentativa - séria e tosca - de o (des)Governo intervir em outro poder da República.

Mas como isso abala a CPI? Não teria sido uma bênção para os investigadores uma figura tão singular aparecer com depoimento e evidências tão claras numa direção?

Bem, seria, caso o sujeito que tenta implantar uma prova falsificada tivesse saído de lá algemado, mas como isso não ocorreu, e com a desculpa mais do que esfarrapada para que isso não ocorresse, a CPI se desmoraliza como empreitada, como instituição, e como propósito.

Mas isso também desmoraliza o Palácio, de onde parecem emanar essa e outras tentativas patéticas de desacreditar as investigações, e acaba por vestir uma carapuça, seja ele responsável por essas tentativas ridículas, seja ele culpado, ou não.

Só que quando algo parece estar errado por muito tempo, ainda que se prove que o erro era só aparência mesmo, a semente desse erro já terá germinado, e tudo vira erro, por mais certo que seja.

Pela frouxidão com que se tratam tentativas ridículas de interferência como essa, aí mesmo é que vemos que essa CPI não busca verdade nenhuma. Seu objetivo parece ser mesmo apenas a desestabilização política do líder supremo a médio prazo, de forma a desgastá-lo para a próxima eleição.

Mas essa turma esquece que nem tudo se resolve nos gabinetes fechados de Brasília, e um povo faminto e abandonado pode ser muito grato àquele que lhe dê algo de comer, mesmo que este lhe tenha espancado pouco tempo antes.

Nossos geniais políticos ainda não entenderam que a eleição não é hoje, que com os novos meios de comunicação a classe média (mais espremida que nunca) que enche as ruas nessas manifestações já não é mais a formadora de opinião que um dia foi, que o povo nunca acreditou em política, e que vive seu dia a dia atrás do pão que lhe permitirá apenas chegar ao próximo dia. Então, ou depõem Bolsonaro agora, ou há real e sério risco de ele se reeleger, e aí sim, aplicar um autogolpe, respaldado por uma reeleição, por uma CPI fracassada, e por uma população que não acredita em políticos.

Como o próprio Haddad já disse em entrevista este ano, a política no Brasil muda em questão de dias, imaginem de mais de um ano que falta para a próxima eleição. O líder supremo não caiu, ele segue sentado na cadeira da Presidência, e irresponsavelmente estão dando a ele o tempo que precisa para reverter a situação em que se encontra. 

Hiperinflação? Teto de Gastos? Ideologia? Dívida Pública? Soberania do país? Povo? Futuro da Nação? Alguém realmente acha que ele se preocupa com isso? Iludido. O líder supremo se preocupa com ele, com "suas filhinhas" e com quanto eles poderão sair dessa aventura. Só.

E do jeito que está o líder supremo tem a faca e o queijo nas mãos, basta cortar.

Ele precisa ser parado enquanto é tempo.



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