O editorial do Estadão de 24 de julho ficou bastante interessante. Uma análise do desenvolvimento político que bateu muito mais com a minha análise do que, por exemplo, a feita por Reinaldo Azevedo. O âncora do O É da Coisa analisou os ataques de Lula e Bolsonaro à chamada terceira via como desenvolvimentos individuais da luta política.
Algo que Ciro faz quando quer se consolidar como força realmente considerável nesta eleição é atacar os erros e fraquezas dos adversários. Para Ciro é mais fácil, porque os adversários já passaram pela Presidência, e apresentaram erros brutais para serem atacados. Mas na chamada 3ª via isso não ocorre. Os virtuais candidatos passaram por prefeituras ou governos estaduais, e no máximo em alguns Ministérios. Dória, Mandetta, Eduardo Leite, e alguns outros candidatos a terceira via também fazem, mas mais devagar, ainda que tenham mais espaço na grande mídia do que Ciro.
Então porque não é assim com os dois primeiros colocados?
Simples, porque eles também são os dois que carregam as maiores rejeição do pleito, e dificilmente se viabilizam como candidatos garantidos no segundo turno, caso entre alguém que quebre a dicotomia eleitoral ora existente. E a presença de um terceiro candidato no segundo turno tende a catalisar também os votos que já tem a favor, com os da rejeição, o que dificulta até mesmo um segundo turno para os dois preferidos de momento. Por isso Lula tenta quebrar uma união da 3ªvia, e Bolsonaro tenta diminuir sua importância no pleito. Só assim ambos têm chance num eventual segundo turno. Claro que isso não deve ter sido combinado entre eles, mas é um desdobramento lógico do desenvolvimento político. Como eles não têm algo tão palpável para atacar um terceiro candidato, então esse ataque é na tentativa de quebrar sua força, seja pregando a desunião, seja pregando uma falta de importância desse seguimento político.
O problema é que o Estadão torna a política rasa, quando resume a eleição a nomes. Lula e Bolsonaro realmente são dois polos ruins da política, mas não exatamente por suas posturas pessoais. Claro, Bolsonaro mesmo é um ser que congrega muito de ruim que alguém pode ter, e Lula não, mas o povo não está elegendo um amigo, muito menos um pai, mas sim o Presidente da República, e este precisa ter ideias que façam o país avançar verdadeiramente, coisa que nenhum dos dois tem. E esse é o ponto, porque o Estadão quer apenas que tenhamos um candidato que tenha um verniz realmente agradável para o projeto de neocolonização do país que se iniciou nos anos 90 com Collor e FHC.
Bolsonaro, claro, não é esse nome. Com sua posição truculenta, tacanha, agressiva, e com ligações estranhíssimas com o submundo ele foi aceitável num determinado momento - lembram do editorial da escolha difícil antes das eleições de 2018? - mas não o é mais, já que se mostrou nocivo, ainda mais a longo prazo. Lula é menos rejeitado, mas nossa elite não aceita bem o fato de ele falar errado, falar besteiras, e de ter vindo de uma família muito pobre. Então os donos do dinheiro no Brasil querem alguém que seja mais palatável para eles, mas que não mexa no sistema que lhes proporciona enorme acumulação de capital.
Por isso Ciro não é o candidato deles. Apesar de muito mais afável que Bolsonaro, e de muito mais preparado que Lula, o pré-candidato do PDT não vai se posicionar de forma subserviente, nem vai tentar entrar como o útil, e ainda vai bater de frente em várias situações, tanto interna como externamente, mas principalmente Ciro vai acabar com o parquinho criado por eles, e eles terão que realmente fazer o dinheiro deles trabalhar para que continuem acumulando, e isso abrirá espaço para muito mais gente na sociedade brasileira.
"No mesmo dia, Lula e Bolsonaro manifestaram por meios diferentes – um no Twitter, o outro numa entrevista – o mesmo medo. Os dois temem que haja um terceiro candidato competitivo nas eleições de 2022 e não perdem oportunidade de desautorizar uma candidatura viável de centro".
"Além de mostrar a estreiteza de horizontes políticos que Lula e Bolsonaro querem impor à população, a tática revela a plena viabilidade de um candidato honesto, competente e equilibrado."
"De outra forma, Lula e Bolsonaro não estariam tão empenhados – quase que de mãos dadas, pode-se dizer – ridicularizando uma candidatura de centro."
"'A terceira via – escreveu Lula em sua conta no Twitter – é uma invenção dos partidos que não tem candidato. Falam em polarização... O que tem de um lado é democracia e do outro é fascismo. Quem está sem chance usa de desculpa a tal da terceira via.'"
"E explicitando o seu receio de que haja uma reunião das forças democráticas em torno de um candidato de centro viável, o ex-presidente petista concluiu: 'Seria importante que todos os partidos lançassem candidato e testassem sua força'."
"Bolsonaro tenta que o eleitor não disponha de nenhuma opção além do bolsonarismo e do lulopetismo. 'Tem uma passagem bíblica que diz, seja quente ou seja frio, não seja morno. Então, terceira via, povo não engole isso aí', disse em entrevista à Rádio Itatiaia."
"Felizmente, a população tem outra percepção da política, um tanto mais equilibrada. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, 59% dos entrevistados disseram que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. Não há intolerância da população com o centro."
"Em relação a uma candidatura viável de centro, Jair Bolsonaro repetiu o seu mantra. 'Não vai dar certo. Não vai agregar. Não vai atrair a simpatia da população. Não existe terceira via. Está polarizado', disse Bolsonaro, em uníssono com Lula."
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