Lula não entendeu as mudanças no Brasil? Na verdade essas mudanças já tinham ocorrido em 2018, mas elas são mais nítidas agora. O problema é que alguns que hoje o apoiam ainda não entenderam estas mudanças. No Nordeste essas mudanças são observáveis na população, mas elas são muito claras em algumas posições políticas, onde o bolsonarismo tomou forma, e onde a busca de uma opção que atenda melhor aos anseios da população também ganhou forma. A busca de uma opção fora da polarização bolsonarismo-lulimo talvez esteja mais consolidada do que o próprio bolsonarismo, que também se vê perdendo espaço lá. Basta dizer que na região, se Bolsonaro conseguir implementar o aumento e a expansão que pretende do bolsa-família, o apoio da população a Lula tenderá a derreter, assim como hoje derrete Bolsonaro.
No sudeste e Sul isso também se vê presente, mas numa resistência muito maior ao retorno de Lula, enquanto Bolsonaro ainda tem grandes focos de resistência (principalmente no Rio de Janeiro e no Sul), e numa encruzilhada sobre o que deveria se opor à polarização.
As regiões Centro-oeste e Norte seguem com amplo apoio a Bolsonaro e a Lula, com a opção sendo apenas algo distante na cabeça dessas pessoas.
Lula já percebeu isso. Em 2018 ele agiu como em 2014, achando que seu "dedo podre" elegeria aquele que ele indicasse, independente de ser bom ou ruim para o país. Hoje ele segue se cercando daqueles que o abandonaram à própria sorte, numa busca por um falso apoio, mas não fecha questão porque sabe que as tendências não estão consolidadas.
Da mesma forma tenta minar a candidatura de Ciro Gomes, e manter Bolsonaro como seu provável adversário de 2º turno. Sim, porque sabe que Ciro é o único que lhe faz ameaça no 2º Turno, e por isso mesmo Bolsonaro não pode ser derrubado ou desidratar a ponto de estar fora da disputa na reta final.
Assim o retrocesso lulista se dá na busca das mesmas alianças que levaram o país ao golpe de 2016, o levaram à cadeia, e que representam algo retrógrado e conservador, onde Lula tentará acomodar suas políticas sociais de entrega de esmolas à população mais pobre. Ou seja, o mesmo que fez antes.
Ao mesmo tempo estamos ainda a cerca de 14 meses da próxima eleição. O quadro pode mudar drasticamente. Como eu disse, se Bolsonaro conseguir aumentar e extender o bolsa-família ele volta com força ao jogo, se não a tendência é que esteja até fora do 2º turno, talvez das eleições. Ciro é a mais viável opção à polarização, e a única opção ao sistema. Seja com Lula, Bolsonaro, ou qualquer um dos outros partidos que discutem um nome de consenso para se oporem à polarização, os antagonismos são apenas de nome e discurso, mas a essência é a mesma, neoliberal, entreguista, privatista no sentido mais doloso do termo.
O único que apresenta um projeto diferente deste é o PDT de Ciro Gomes. E ao mesmo tempo que Ciro já está resolvido dentro do partido, ele e o partido já disseram que não abrem mão de seu projeto. Não que ele não possa ser debatido, alterado em alguns pontos, flexibilizado em alguns, acrescentados outros, mas o PDT e Ciro não irão apoiar um projeto neoliberal. Não porque isso esteja em desuso no mundo, mas porque sempre foram oposição a esse sistema, e porque foi esse sistema que nos trouxe ao caos atual.
Por isso Ciro precisa aprofundar a pré-campanha, aumentar, no mínimo, mais uns dois ou três pontos sua consolidação como terceiro colocado nas pesquisas, e aí sim, discutir o apoio dos outros partidos a seu projeto, a suas ideias. Como eu disse, haverá pontos em que ele poderá flexibilizar, incluir, tirar, mas a essência precisará ser a dele.
Os outros não propõem nada, apenas nomes, como se tudo estivesse certo, como se o país não tenha e continue se desindustrializando, como se a fome não tenha voltado com força, como se o desemprego e a informalidade não estivessem em números jamais vistos, e então tudo fosse apenas uma questão de quem é o mais engraçadinho para administrar o "paraíso na terra" que seria o Brasil.
Mas todos sabemos que não é, e que a situação apenas piora dia a dia. Ou você tem alguns muitos milhões na bolsa de valores?
Lula encontra no Nordeste um mundo muito mais complexo para o lulismo
Para o ex-presidente já não é possível arrebanhar multidões em comícios, indicar candidatos com o dedo e definir alianças regionais como sempre fez
Por José Casado Atualizado em 22 ago 2021, 04h16 - Publicado em 22 ago 2021, 08h30
Já não é possível, por exemplo, arrebanhar multidões em comícios, indicar candidatos com o dedo e definir alianças regionais da forma como sempre fez, mesmo atropelando aliados.
Em São Luís, por exemplo, viu-se diante dos aspirantes do PT, PDT e PSB, todos aliados do governador Flávio Dino (PSB). E, também, das alternativas adversárias do MDB do ex-presidente José Sarney, que o recebeu para jantar, na companhia da filha e ex-governadora Roseana e do ex-ministro Edison Lobão. Sarney foi o esteio de Lula no Senado, Roseana líder do governo e Lobão seu ministro de Minas e Energia. Toda vez que, em público, lhe perguntaram sobre quem apoiaria, esquivou-se: “Só em março”.
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