segunda-feira, 26 de abril de 2021

A profissão prisioneiro

Em princípio não deveria ser assim, em princípio deveria ser apenas mais uma profissão, em que o empregado cumpre sua parte, sua jornada, realiza seu trabalho, e depois vai para casa. 

Mas com navios isso não ocorre.

Nun navio o trabalhador cumpre sua jornada, e depois permanece a bordo, não só pela impossibilidade física de se ausentar do navio, mas também por legislações várias, que exigem tripulação mínima para a operação do navio, e que são aplicadas pela quase totalidade dos armadores como forma de reduzir os custos com mão-de-obra. Então, muitas vezes, mesmo atracado num porto, os tripulantes não podem deixar seus navios. Tudo isso, junto com longos períodos de embarque, que normalmente alcançam entre 6 e 9 meses, transformam as embarcações em prisões, provocando o afastamento dos tripulantes de seus familiares, amigos e de uma vida em sociedade.

Claro que o caso abaixo foi um exagero, mas ele não é único, e não é tão raro.

Em meu tempo na ITF acompanhei vários casos semelhantes, e enquanto empregados pagam com confinamento, sem salários, e uma quase total reclusão da sociedade (sem serem criminosos), seus irresponsáveis empregadores seguem suas vidas normalmente, e não raro voltam a armar outros navios, enquanto abandonam navio e tripulação à própria sorte longe de seus portos de origem, e de auxílio oficiais.

Enquanto isso, entidades que buscam auxiliar tais trabalhadores, como a ITF, e algumas ONGs ligadas a Igrejas, são vistas como problemáticas e frequentemente vêm tentativas de limitação de suas ações por parte de armadores, terminais, e agentes portuários.

Acontece que pelo mar passam cerca de 90% das riquezas mundiais. O mundo precisa voltar seus olhos a esses trabalhadores anônimos, e tratá-los com mais respeito. Tripulantes não são donos de nenhum navio, e não podem ser punidos pelos erros de seus patrões.

Mohammed Aisha disse que se sentia como se finalmente fosse deixar uma 'prisão', após quatro anos num navio abandonado no Mar Vermelho do Egito. Ele chegou a pensar em tirar a vida quando soube que a mãe morreu, enquanto estava 'preso' na embarcação.

Por BBC

 


"Alívio. Alegria. Como me sinto? Como se finalmente tivesse saído da prisão. Finalmente vou me reencontrar com minha família. Vou vê-los novamente".

Foi essa a mensagem que Mohammed Aisha enviou à BBC do avião na pista do aeroporto do Cairo, no Egito, antes de decolar de volta ao seu país-natal, a Síria.

Terminava ali uma provação de quase quatro anos, iniciada em 5 de maio de 2017, que afetou seriamente sua saúde mental.

Inicialmente, não seria algo difícil de resolver, mas os operadores libaneses do navio não pagaram pelo combustível e seus proprietários, do Bahrein, estavam passando por dificuldades financeiras.

Com o capitão egípcio do navio em terra, um tribunal local declarou Aisha, o oficial chefe do navio, o guardião legal do MV Aman.


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