terça-feira, 6 de abril de 2021

Requião precisa enxergar o Lula real

Mas Roberto Requião não é o único que precisa enxergar o Lula real. Tem muita gente que precisa enxergar quem realmente é Lula. Aí embaixo tem um texto que ele publicou na Facebook junto com o economista José Carlos de Assis. Com teor bastante parecido, Requião postou na Revista Piauí, mas tudo o que contém nesses dois textos, nada faz jus a Lula.

Por que nada disso faz jus a Lula? Simples, porque a história de Lula fala por si mesma. Ele é o cara da "Carta aos Brasileiros"; ele é o cara do Meirelles no Banco Central; é o cara que chegou a pagar 26,5% na taxa Selic, e a manteve por quase todo o seu período na Presidência acima dos 2 dígitos; é o cara que indicou Dilma, que colocou Joaquim Levy na Fazenda; o cara que foi fazer discurso para empresários e disse "eu sou de direita", e que "aos sessenta quem é de esquerda tem problemas". Lula é o cara que promoveu várias privatizações durante seu governo,  com a desculpa de que eram concessões; é o cara que indicou Haddad, que incluiu em seu projeto de governo a autonomia do Banco Central e se vangloriou de atingir grau de investimento na Prefeitura de São Paulo; é o cara que acena com abertura de capital de estatais absolutamente estratégicas para o Brasil; e também é o cara que deu migalhas ao povo brasileiro, enquanto a elite econômico-financeira se banqueteava com os fartos recursos que entraram no país na primeira década do Século XXI. Verdade que isso causou uma revolução no país, mas isso não mostra qualidade do governo de Lula, mas o grau gigantesco da miséria que ainda hoje assola o país, e que foi apenas minimizada por um curto período histórico.

Também diferente do que diz ser, Lula não é um bom negociador. Ele está sempre entregando os dedos para tentar garantir alguns anéis de bijuteria barata. Basta ver seu discurso, que diz querer fazer um governo bom para os trabalhadores, mas só oferece benesses aos mais ricos. Nem mesmo os abusos  e retiradas de direitos dos trabalhadores, que foram perpetrados nos últimos 4 anos, ele ameaça rediscutir, nada da entrega criminosa do patrimônio público, enfim, nada que possa realmente pudesse mudar a vida dos trabalhadores brasileiros de forma sustentável.

Mas não me parece que o errado seja Lula. A mim parece que os errados são aqueles que se deixam enganar por esse canto de sereia desafinado, porque esperam que Lula entregue algo que ele nunca quis entregar, já que se satisfaz com algumas migalhas, ou como ele mesmo disse em uma entrevista, um "chiclete usado".

Ficamos chocados com a sua afirmação de que estaria a favor de transformar empresas estatais, como a Caixa Econômica Federal, hoje totalmente controlada pelo Estado, em empresa de economia mista sob controle parcial privado. Também nos surpreendeu sua concordância com Lula é o Governo atual na estratégia de privatização da Eletrobrás, a qual, junto com a Petrobrás, é o eixo da independência energética brasileira.
Supomos que esteja sendo mal aconselhado na área econômica. Não há nenhum sentido em privatizar a Caixa, mesmo que parcialmente. É uma empresa que rende dividendos expressivos para a área assistencial do Governo, há mais de um século, e desempenha papel estratégico no desenvolvimento social do país. Privatizá-la significa efetivamente doar uma parte dela a particulares sem qualquer justificativa econômica ou moral.
No caso da Eletrobrás, estamos diante de um dos maiores riscos estratégicos para a economia brasileira, na medida em que um sistema energético integrado e bem articulado ficará sob a ameaça de injustificável desintegração. Além disso, é uma empresa monopolista em várias funções, não fazendo qualquer sentido que seja entregue ao setor privado com seu apetite por lucro e com o descaso na operação, conforme se viu recentemente em Rondônia.
Mais assustador ainda do que o que assinalam essas indicações privatistas – neste caso, tendo em vista o que propõe o próprio programa do PT recém-lançado – é o que ali se expressa como um compromisso com o equilíbrio macroeconômico. Isso é puro conservadorismo. É um compromisso, sim, com a recessão, pois uma economia que não tem desequilíbrios macroeconômicos, sobretudo a partir de recessão, jamais retomará o crescimento econômico.
Observe os Estados Unidos, o Japão, a União Europeia, a Inglaterra – ninguém faz mais equilíbrio orçamentário no mundo, pois sabe que se trata de um suicídio econômico e social. Equilíbrio macroeconômico é manter a demanda no nível da oferta, o que, num quadro de recessão, impede o investimento público deficitário, chave do keynesianismo. Os governos neoliberais inventaram, além disso, o absurdo do teto orçamentário, tão contraditório que o próprio Governo quer agora se livrar dele, sob protesto de economistas ortodoxos e conservadores. (Entretanto, enquanto subsistir o governo Bolsonaro, não somos contra o teto de gastos, pois sem teto ele teria carta branca para gastar.) Para o combate à covid, sim, é importante furar o teto de gastos; outros gastos deveriam ser vistos caso a caso.
Essas observações acentuam nosso alinhamento com a essência de seu projeto político. Contudo, não podemos estar de acordo com as questões políticas levantadas acima. Fazemos isso por lealdade ao próprio país. Pretendemos nos juntar a milhões de brasileiros que veem no senhor um projeto de mudança para o país. Estamos certos que a orientação macroeconômica do futuro governo que vier a chefiar repita a espetacular performance de 2010, quando saímos de uma depressão para um crescimento de 7,4%, graças, sobretudo, a investimento deficitário.
Grande abraço, Roberto Requião, advogado e político; José Carlos de Assis, economista.
Curitiba/Rio, 3 de abril de 2021

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