Uma candidatura à Presidência não se constrói em 2 meses, e algumas das forças políticas já se articulam desde 2018 para tentar suceder Jair Bolsonaro. Além do próprio Bolsonaro, o PT nunca deixou sua articulação, Ciro Gomes também não, e alguns nomes também entraram nessa corrida, como Sérigo Moro, João Dória, Luciano Huck, e tardiamente Luiz Henrique Mandetta. Os dois últimos se alçaram a tal corrida, o primeiro pela popularidade que seu programa televisivo de gosto duvidoso lhe dá, e o segundo pela popularidade que sua atuação à frente do Ministério da Saúde no início da pandemia.
Primeiro vamos descartar alguns. João Dória é o mais forte dos descartáveis, porque tem amplo domínio no estado de São Paulo, o que lhe garante uma boa votação de saída, mas é bastante rejeitado no resto do país, ou mesmo desconhecido, ainda que tenha usado o Butantan (que ele quis privatizar no início de seu governo) para tal. Huck tem muita popularidade como apresentador, mas não tem conseguido refletir essa popularidade em intensões de voto, e surgem boatos de que está assinando um contrato milionário com a Globo, que o impediria de assumir um compromisso mais forte. Mandetta ficou conhecido e popular, mas traz consigo muita desconfiança por ter sido parte do (des)governo Bolsonaro, e ainda restringe muito sua influência ao Mato Grosso do Sul.
Agora os mais fortes candidatos. Começamos com Bolsonaro que, ocupando a Presidência, tem a máquina pública na mão, ampla atenção da mídia, e uma base ideológica de uns 20% consolidada na sua tentativa de reeleição. O problema é que suas ações durante a pandemia, que agravaram o problema, e a pífia gestão econômica de seu governo minam muito o apoio fora de sua base eleitoral cativa. Sua chance é um novo embate contra o PT, e desde que o oponente não seja Lula.
O PT com Lula é um, com Haddad é outro. Qualquer um dos dois deverá estar no segundo turno, mas com Haddad há muita desconfiança da população, já com Lula essa desconfiança diminui. Mesmo assim ambos têm grandes chances contra Bolsonaro.
O terceiro, que corre por fora, é Ciro Gomes e o PDT. O candidato e o partido têm menor rejeição que os dois primeiros, mas eles até agora não apresentaram apoio popular suficiente para estar no segundo turno. Se Ciro conseguir ultrapassar seu grande obstáculo, então ele terá grandes chances de vitória, seja contra Lula, mas mais ainda contra Bolsonaro.
O interessante é que tanto Bolsonaro, quanto Lula, não são descartados pela elite financeira do país, enquanto Ciro é pessoa absolutamente non grata a essas elites. Já entre a população em geral, Bolsonaro e Lula têm apoio maiores que Ciro, mas também têm rejeições muito maiores.
Com esse quadro Bolsonaro e Lula partem de bases mais sólidas, mas têm mais dificuldades para tornar suas candidaturas vitoriosas, enquanto Ciro tem uma base menos extensa, mas tem mais possibilidades de vencer, caso consiga melhorar sua base. Eleitos os dois primeiros terão mais condições de governar, até porque se dobram com facilidade às estruturas seculares vigentes no país. Já Ciro tem como proposta romper com essas estruturas, e isso pode tornar seu governo um grande barril de pólvora. Necessitará de muito apoio popular e muita habilidade política para impor seu PND, e fazer seu governo com a profundidade que busca.
Claro que isso pode sofrer alguma mudança, mas até o momento nada indica que isso ocorra. Primeiro porque a mídia tradicional perdeu bastante poder após a interminável campanha anti-PT; segundo porque algumas forças estão em discussões internas e têm seus apoios ainda oscilantes; terceiro porque a internet segue ganhando espaço no debate público, seja para um lado, seja para outro, e isso cria bolhas ainda mais intensas e fechadas; e quarto porque com a pandemia não temos grandes oportunidades de manifestações populares, e isso nos deixa a mercê das pesquisas de opinião, que nem sempre são fidedignas. Mas o quadro atual é o que indiquei acima.
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