terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Os equívocos de Bresser-Pereira

O texto do Professor e Economista Bresser-Pereira foi divulgado em suas redes sociais. Eu o vi no Twitter, mas o que trago abaixo retirei do Facebook, e é o mesmo. Pois bem farei alguns comentários breves, que dão o viés desenvolvimentista assumido pelo Professor, mas o equivoco em afirmar que isso venha a ser feito por Lula.

Para mim o primeiro equívoco é dizer que os brasileiros caíram em si. Ora, basta ver as pesquisas que vemos que os brasileiros não entenderam nada. Bolsonaro é o fundo do poço, mas ele faz um governo economicamente compatível com todos os que tivemos no Brasil de Collor para cá, com a honrosa exceção de Itamar Franco. A ideia principal é o "liberalismo econômico", que se traduz em abertura de mercado, privatizações (no Brasil quase doações), achatamento salarial, perda de direitos trabalhistas e de cidadania, etc. O que as pesquisas dizem é que o brasileiro seguirá votando nisso, apenas não será num alucinado que comete as maiores atrocidades possíveis.

Também erra ao dizer que o teto fiscal seria aceitável se variasse com o PIB. Teto fiscal não é aceitável em nenhuma hipótese. O aceitável é que o governo debata o orçamento com o Congresso, e de preferência com a sociedade também, e que este caiba dentro das receitas previstas do ano, mas que seja maleável, podendo aumentar ou diminuir dependendo das possibilidades e necessidades. Assim agem nações avançadas. 

Depois ele comete outro erro. Sim, ele diz que a candidatura de Ciro não deslanchou. Ora Professor, a eleição é em outubro do ano que vem, e muita água ainda passará embaixo dessa ponte. A candidatura do pdetista poderá deslanchar ou não, mas ela não está fora do páreo.

Outro erro é dizer que Lula fez um belo governo. Bem, não devemos confundir sorte com acerto. O governo de Lula foi recheado de erros. Os econômicos foram pelos 8 anos, e os políticos se concentraram no segundo mandato. Ainda assim o resultado pareceu bom, mas foi pela sorte que teve. O enorme boom das commodities pagou as trapalhadas financeiras, possibilitou enormes transferência de renda aos setores mais privilegiados da sociedade, e ainda sobrou para um sopão pros pobres. Na verdade ele e Dilma jogaram 12 anos de enorme possibilidades no lixo, em vez de aproveitar o período para promover uma revolução econômico-social no país.

Por último erra ao dizer que antes Lula não tinha ferramental teórico e agora o tem com o Novo Desenvolvimentismo, e erra mais ainda ao dizer que ele fará uso dele. Lula não fará uso de nada. Ferramental teórico desenvolvimentista existe há muitos anos, foi aplicado com muito êxito em muitas sociedades, e Lula não o usou porque não tem nenhum compromisso com isso (nem conhecimento). O que Lula busca, em nome do poder, é garantir enormes lucros a grandes grupos econômicos, enquanto usa políticas sociais compensatórias como amortecedor para as tensões sociais. E é isso que ele tentará fazer de novo. Só que agora não terá boom de commodities para pagar a conta.

Depois disso vou querer ver o carisma dele para explicar pro povo que não terá expansão de bolsa-esmola porque não cabe num orçamento já tomado por isenções fiscais para grandes empresas, salários exorbitantes para uma casta de funcionários públicos improdutivos e privilegiados (uma pequeníssima maioria que se farta no orçamento), e o pagamento de estratosféricos juros de uma dívida pública desnecessária. E ele não vai nem tentar mexer nesse orçamento. Por isso a busca tão alucinada em tentar colocar alguém ligado ao mercado financeiro como vice. É a garantia de que ele estará com a faca no pescoço.

Os brasileiros caíram em si
Os impressionantes resultados do Datafolha de hoje apontam para a vitória de Lula nas eleições presidenciais, provavelmente no primeiro turno. Os brasileiros caíram em si. Depois do imenso erro que cometeram elegendo um presidente de extrema-direita, eles voltaram a pensar.
O Brasil vive uma grande crise política desde 2013 e econômica desde 2014. Diante da reeleição de Dilma e da crise fiscal de 2015, as elites econômicas adotaram um neoliberalismo radical e um antipetismo irracional.
Esta virada das elites abriu espaço para Michel Temer, com seu projeto neoliberal “Uma ponte para o futuro”, obter o apoio das elites para um golpe de Estado, e para um juiz autoritário e corrupto condenar e prender Lula para impedi-lo de voltar à presidência.
Os resultados foram a emenda do teto fiscal, que seria razoável se variasse com o PIB, a estagnação econômica, e a eleição em 2018 de um candidato de extrema direita sem qualquer condição de governar o Brasil. Foi um momento em que os brasileiros pararam de pensar.
Agora surge a oportunidade para o Brasil voltar a encontrar o caminho da democracia e do desenvolvimento. Esta oportunidade se concretiza em Lula, político carismático, de centro-esquerda, solidário com os trabalhadores e os pobres.
Entre os candidatos apenas existe um que é também um político capaz e comprometido com o Brasil, Ciro Gomes, mas sua candidatura não deslanchou. A centro-direita ainda procura um candidato, mas Lula não é apenas mais capaz, é também mais moderado.
Lula fez um belo governo entre 2003 e 2010. No plano econômico acertou em promover o investimento público e em adotar política industrial mas não tinha então as ferramentas teóricas para criticar a abertura indiscriminada da economia e trazer o Brasil de volta ao desenvolvimentismo.
Agora essas ferramentas existem – estão no Novo Desenvolvimentismo – e ele poderá adotá-las: a rejeição dos déficits em conta-corrente e a neutralização da doença holandesa. É a oportunidade para o Brasil sair voltar a se industrializar e sair da quase-estagnação que já dura 40 anos.

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