quarta-feira, 23 de março de 2022

A essência de todos é a mesma

Muito bom o artigo de Gilberto Maringoni veiculado no Portal Disparada. Mas eu vou fazer uns adendos a ele. 

A primeira é uma crític, e é que as gestões petistas colocaram o projeto social na gestão. Na verdade as gestões petistas ampliaram alguns projetos sociais que foram iniciados pelo governo do PSDB, e incluíram alguns outros. Essa ampliação e acréscimo foram possibilitados pelo boom das commodities, como bem assinalou Maringoni, mas não dá para dizer que o PSDB não teria feito o mesmo, já que tivemos praticamente 4 anos de crise com eles, com o país tendo sido obrigado a recorrer ao FMI.

É verdade que a chapa representa um lado democrático da sociedade, mas é um lado bastante corroído pelo tempo. Não por sua longevidade, mas porque entendem democracia apenas como a eleição, onde decisões e acordos se fazem a portas fechadas, e sempre visando primeiro os ganhos financeiros de elites tradicionais. Ao povo restam as sobras. Quando elas escasseiam, o povo sofre para que as elites não sofram nada. Essa mesma consideração pode ser feita a quase todos os outros partidos e tentativas de coalizões do país.

Por último gostaria de destacar que essa chapa é importante, está no campo democrático, mas ela não rompe exatamente com a aliança nefasta que ele bem descreve no final de seu texto. Dois desses elementos se acomodaram com facilidade em todos os governos desde a redemocratização - Faria Lima e lumpesinato político - e Lula ainda acrescentou os pastores picaretas, que viraram figuras importantes desde o final de seu primeiro governo. Essa chapa mantém esses 3 atores políticos mais do que vivos.

Eu não tenho certeza se vão mandar os militares de volta aos quartéis, e os milicianos para a cadeia.


O incômodo de parte do PT com a indicação de Geraldo Alckmin para vice de Lula não se dá pelo fato do ex-governador ser empecilho para qualquer política emanada da agremiação. Ao longo de 13 anos, as gestões petistas nunca colocaram em xeque algum pilar do neoliberalismo. As políticas monetária e fiscal foram mantidas (câmbio flutuante, altos superávits primários e sobrevalorização cambial) e nenhuma privatização foi sequer ameaçada.

O forte dinamismo do setor externo entre 2006-10, possibilitado pela alta das commodities, garantiu excedentes que resultaram em boas iniciativas na área social e algum ativismo estatal (em especial nas lei de partilha no petróleo, na de conteúdo nacional e na mudança no perfil da dívida pública). Essas três políticas, juntamente com a lei do salário mínimo e a política externa dos dois governos Lula, formam o ponto alto das administrações do período e não são pouca coisa.

O que incomoda parte do petismo é que a aliança com Alckmin joga por terra o bordão de que as gestões tucanas e petistas seriam distintas entre si. Na essência não foram.

Os anos Lula colocaram conteúdo social no projeto neoliberal, mas não ultrapassaram seus marcos. A Carta aos Brasileiros (2002) foi integralmente cumprida, até com certo exagero. O ajuste fiscal de Dilma II, por exemplo, foi muito mais draconiano do que os de FHC. Basta checar os indicadores de PIB, emprego e renda para confirmar.

Repito: há diferenças entre os governos PSDB-PT, mas elas dizem respeito a lateralidades e não à essência do modelo. A aliança Lula-Alckmin confirma tais constatações.

Dito isso, é preciso repetir: as duas lideranças situam-se no campo democrático. A aliança é absolutamente essencial para nos tirar do pântano mortal do combo Faria Lima+milícias+forças armadas+ pastores picaretas+lumpesinato político.

O resto é marola.




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