quarta-feira, 2 de março de 2022

A Guerra nas mídias e no campo

Na última quinta-feira os russos invadiram a Ucrânia e o mundo virou de cabeça para baixo. Dizer que a inteligência americana acertou ao falar da invasão é piada, já que eles passaram meses dizendo que Putin iria invadir a Ucrânia no dia seguinte, e o fato de eles, em algum momento, terem acertado, apesar dos indícios em contrário, não desfaz a sensação de puro "achismo" da previsão.

Da mesma forma o blogueiro errou ao dizer que não haveria guerra, já que havia indícios de que se encontraria uma solução pacífica para o conflito, Putin iniciava a retirada das tropas, reuniões tinham sido marcadas, etc. Mas sempre existem possibilidades de que algum idiota puxe o gatilho quando deveria ter ficado quieto. E esse foi o motivo alegado por Putin para a invasão, já que o mandatário russo reconheceu a independência de duas províncias no sudeste da Ucrânia, e que foram atacadas por tropas ucranianas. Um "pedido" de auxílio por parte dessas províncias, e a desculpa para a invasão estava dada.

Mas não se enganem, como eu disse na sexta-feira, não há mocinhos nessa história, só bandidos e vítimas. A OTAN insistiu e insiste em uma expansão provocadora em direção ao território russo, vem buscando apoiar a Ucrânia. e foi a primeira a desrespeitar os acordos assinados em Bucareste, que garantiam não intervenção nas antigas repúblicas soviéticas. Da mesma forma, ainda que não assinado, houve compromisso dos ocidentais em não expandir a OTAN em direção à Rússia. Todos compromissos não cumpridos. Isso fora as muitas vezes que a própria OTAN fez o favor ao mundo de não cumprir com a carta da ONU, ou em extrapolar autorizações de intervenção recebidas.

Da mesma forma a Ucrânia não cumpre com os próprios acordos assinados, vem descambando para um regime de cunho nazi-fascista, e ainda que isso tenha se reduzido um pouco no governo de Zelensky, o chamado pelotão Azov seguia operando livremente em seu território, minorias seguiam sendo perseguidas, e como já disse, acordos seguiam não sendo cumpridos.

Já a Rússia, liderada por um saudosista que leva o pragmatismo ao extremo da insanidade, vem se preparando há bastante tempo para a retomada de sua importância no mundo. Se essa importância hoje em dia não está tão intimamente ligada a ideologia, e nem a uma importância industrial, ela está sim ligada ao poder militar ostentado pelo russos, cujo fortalecimento foi alvo das ações de Putin durante todo o seu exercício à frente do governo. Essas ações de Putin se explicam pela expansão da OTAN em direção à Rússia, que por sua vez se explicam pelas ações de Putin (é paradoxo do ovo e da galinha).

No fundo essas brigas por poder e ideologias se explicam, mas nada nelas se justifica. No final das contas quem sofre são os operários e a população em geral que não tem acesso às grandes parcelas da riqueza.

Com isso toda essa guerra na mídia de quem é mauzão e quem é bonzinho não passa de uma busca de validação popular para os próprios erros.

Enquanto isso, no campo de batalha, os russo podem estar se segurando na ofensiva, ou podem ter avaliado mal a resistência ucraniana, ou ainda uma mistura das duas coisas. De qualquer forma é nítido que vêm aumentando paulatinamente a pressão, e que não demorará muito irão tomar Kiev também. Da mesma forma parecem mostrar que já poderiam ter tomado a capital, daí a dúvida acima.

Acontece que uma coisa Putin não deixa dúvidas, ele não ameaça, ele avisa. O mundo ocidental ainda não entendeu isso? Ele juntou 150.000 soldados nas fronteiras com a Ucrânia e disse, "vamos conversar?". Foi uma confusão e começaram as conversas, mas as ações não pararam. Houve a invasão.

Agora ele chamou de novo a dialogar. Se sentaram à mesa, mas aumentaram as pressões contra a Rússia, e os apoios (inclusive com armas) à Ucrânia, o que incentiva Zelensky a protelar um acordo. Ele também aumentou a pressão.

Por último vem a ameaça de guerra nuclear, que o Ocidente, mais uma vez, parece estar interpretando mal. Vamos aos fatos:
- Quando houve a ofensiva russa, ao mesmo tempo os russos reposicionaram os bombardeiros que lançam seus mísseis hipersônicos.
- Quando o mundo ocidental ameaçou com as sanções, Putin deu uma declaração dizendo que se essas sanções prejudicassem muito o povo russo, isso seria levado aos ocidentais também, e através de uns mísseis que alcançariam toda a Europa em no máximo 10 min. E isso não significa que só a Europa será retaliada.
- Os ocidentais seguiram fingindo que não estão vendo esses movimentos, e não só iniciaram as sanções, como praticaram atos de guerra (o confisco de reservas russas é um ato de guerra), e ainda começaram a fornecer armas aos ucranianos.
- As respostas de Putin foram aumentar as pressões sobre os ucranianos e colocar suas "forças de dissuasão" em alerta máximo - essas unidades especiais das forças armadas russas utilizam armas nucleares.
- Os ocidentais mais uma vez fingem não ver a seriedade da situação, e aumentam as pressões e as ajudas à Ucrânia.
- Talvez Putin dessa vez esteja só blefando. Só que o preço a pagar para saber isso pode ser alto demais.

Porque parece que qualquer intervenção ainda mais direta na questão ucraniana tem a tendência de deflagrar um novo conflito mundial, conflito esse que será o fim da humanidade, ao menos como a conhecemos e no estágio de evolução que temos. Mesmo o aumento (ainda que não diretamente) no desenrolar desses acontecimento, já demonstra esta tendência.

A crise atual não é a maior na Europa desde a Segunda Grande Guerra, ela é a maior no mundo desde a crise dos mísseis de Cuba em 1962. Da mesma forma que os norte-americanos não aceitaram que os soviéticos ameaçassem tão diretamente seu território à época, os russos também não o admitem agora.

Ao invés de estarem incentivando a Ucrânia a enfrentar os russos, os ocidentais deveriam estar buscando o diálogo e um acordo que satisfizesse todos os lados, e depois estarem todos juntos no cumprimento desse acordo. Essa guerra, e um possível recrudescimento dela não interessa a ninguém, fora talvez aos fabricantes de armas, mas mesmo esses não ganham nada com um conflito nuclear.

A geopolítica é um xadrez muito mais complicado que aquele jogado no tabuleiro quadriculado. E hoje ela tem um complicador a mais, que é o fato de dependendo da jogada ninguém mais joga, porque não sobrará ninguém para jogar.

A guerra, ou como chama Putin, a operação especial militar, é o momento em que todos deixam de ter razão. Mas é preciso que ela seja recuperada. E isso se dá na mesa de negociação, e cumprindo o acordado.




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