Ontem mais de 123 milhões de brasileiros foram às urnas, e pasmem, quase 33 milhões simplesmente ignoraram a eleição e ficaram cuidando de suas vidas. Claro, entre esses 33 milhões muitos que estão afastados de seus domicílios eleitorais por motivos de trabalho, ou saúde, mas a grande maioria não votou por opção mesmo, e isso já é um indicador importante desse primeiro turno, porque se somarmos com brancos e nulos, esse número da um percentual em torno de 25% do eleitorado que não optou por nenhum candidato, e mais de 20% nem mesmo quis votar.
O segundo ponto importante é que o Brasil foi bastante claro em optar por manter o modelo econômico que está levando o país ao completo desastre. Tínhamos dois sistemas principais em debate, o de Ciro, que propunha uma revisão do capitalismo brasileiro em moldes social democrata, e o dos outros 3 principais candidatos, que ofereciam exatamente o modelo que está aí, mas com leves nuances personalistas, e até de modelo, mas que não chegam, nem de perto, a descaracterizar o sistema vigente no país. Pois bem, Ciro teve apenas 3,04% dos votos, e foi tratorado pelo sistema.
O terceiro ponto é o fato de que Lula está eleito. O segundo turno, salvo uma reviravolta provocada por algum fato muito absurdo e inesperado, é apenas um proforma para a eleição do ex-Presidente. Mas sua vitória tende a ser sua maior derrota, e uma grande derrocada de seu partido.
Para comprovar isso vamos analisar a nova composição do Congresso. Verdade que a bancada do PT cresceu de 56 para 68 deputados, mas a do partido de Bolsonaro cresceu de 77 para 98 deputados, tornando o partido o maior das últimas legislaturas. Além disso os partidos que apoiam Bolsonaro elegeram 185 deputados enquanto os que apoiam Lula apenas 125. Mais que nunca o centrão terá um cardápio variado e farto para que Alckmin não vire Presidente. No Senado a situação é pior, e mais de 2/3 da casa é bolsonarista ou reacionário. E com isso não vai ter picanha e cerveja, mas quem sabe não sobra uns pés de galinha pra uma canja rala?
O quarto ponto eu já iniciei acima, e é o desastre que tende a ser a administração econômica do próximo governo, e não importa se ele será de Lula ou de Bolsonaro. O país precisa de profundas mudanças, e nenhuma delas é a ampliação de políticas neoliberais, mas é isso que, tanto Lula, quanto Bolsonaro farão. Um pela mais pura rendição ao sistema, o outro porque não se importa mesmo. E essas políticas apenas aprofundarão as contradições brasileiras, e a miséria da população.
Além disso as condições que permitiram a ampliação do crédito e a melhoria de algumas políticas públicas por parte do primeiro governo Lula não existem mais, e absolutamente nada indica que elas voltarão. Para piorar o próprio agronegócio brasileiro, o grande campeão da atualidade, tende a tomar uma grande rasteira, porque seu grande cliente já busca outros fornecedores, e, soja é soja, seja ela plantada no Brasil, ou...na África.
Por último o mundo passa por um momento muito delicado. As movimentações que veem acontecendo no leste da Europa, na Ásia, e pressões que começam a se fazer sobre o sempre explosivo Oriente Médio, e as muito influenciáveis África e América Latina deixam claro que o país precisava de uma liderança mais esclarecida, porque é a hora de o país obter avanços em diversas áreas. Mas os dois que passaram ao segundo turno tendem a se alinhar sem muitas exigências. E apesar de o Itamaraty ser muito capacitado, muito técnico, muito ágil e pronto a defender os interesses do país pelo mundo, há a necessidade de o Chefe de Estado ter condições de aproveitar melhor essas qualidades da diplomacia brasileira. Basta ver os desastres que Temer, e principalmente Bolsonaro, provocaram ao redor do mundo, a ponto de o país estar desacreditado internacionalmente. Lula tem a memória de um passado não tão distante a seu favor, mas isso tende a ser rapidamente superado se ele começar a soltar as pérolas que tem soltado nos últimos anos, e não foi apenas aqui dentro. Isso tudo se resume ao fato de ambos nossos valentes finalistas terem pedido as bênçãos do Departamento de Estado dos EUA.
A pressa em definir um voto útil quando o momento era de definir grupos de poder minaram a única força política que tentaria por freios nesse quadro.
Com todo esse quadro, não importa muito o eleito, porque o futuro governo não será muito diferente de um pro outro. Claro, os personalismos que cada um imporá ao próprio governo, e algumas tendências de leitura do modelo serão detectáveis, mas o neoliberalismo seguirá seu caminho firme e forte, e as condições da população brasileira seguirão se deteriorando.
Mas isso é uma análise feita em cima do momento atual, das alianças que cada um dos candidatos apresentou, e pelas condições de futura governabilidade que a despolitização da campanha nos impos. Veremos o que dela se realiza, ou o que não se realiza.
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