O excelente Silvio Almeida escreveu um texto, publicado na Folha de São Paulo no último dia 28 de outubro, e que conclama os brasileiros a elegerem Lula. O texto é duro, contém algumas verdades, mas alguns exageros também, ao menos na minha opinião.
Senão vejamos. O 2º turno foi extremamente apertado. Jair Bolsonaro foi derrotado pela menor margem percentual da História pós-democracia, e pelo número de votos também. Verdade que Lula venceu, mas o único que venceria Bolsonaro (e na minha opinião com mais facilidade) teria sido Ciro. E houve vitória porque era Lula, se fosse outro candidato Bolsonaro ganharia.
Tudo também indicava que Bolsonaro estaria na frente na reta final de 2º turno, tendo tirado uma diferença de mais de 6 milhões de votos que Lula abriu no 1º turno. Na verdade foi pior, porque Bolsonaro cresceu mais de 7 milhões de votos, enquanto Lula apenas 3 milhões. Isso mostrou o teto daquele que deixou o governo com mais de 80% de aprovação, e mostrou que a virada de Bolsonaro esteve muito próxima. Muitos, incluindo eu, creditam a não virada aos desatinos de Roberto Jefferson, Guedes, e Carla Zambelli, que entornaram o caldo Bolsonarista na reta final de 2º turno, corroborando com o discurso de oposição, e deixando o lento (de cérebro) Presidente sem conseguir se explicar e/ou desvencilhar das atrocidades que cometeram correligionários tão próximos. O que ficou claro, para muitos, é que não era apenas um discurso efusivo para marcar diferença, mas algo que pretendiam levar à prática.
Isso depois da pandemia, do aumento importante da miséria, de cenas deprimentes de brasileiros na busca de ossos e pés de galinha para sopa (por falta de condições financeiras), da precarização extrema do trabalho, do nítido abuso por parte de alguns órgãos de segurança, do aumento importante de desmatamento e queimadas (principalmente na Amazônia), do achatamento brutal da classe média, de vários casos de corrupção e de tentativa de corrupção, alguns com ligações diretas ao Palácio do Planalto. Tudo isso e mais algumas coisas, e mesmo assim Jair Bolsonaro teve uma votação maior do que em sua primeira eleição, tanto no primeiro como no segundo turno.
Com esse quadro Silvio Almeida vem mais uma vez com a conversa de democracia, de que a democracia vai resolver a violência, vai resolver as perseguições às minorias, vai colocar comida na mesa do pobre, vai emancipar o brasileiro. Só que depois de 30 anos de "democracia" o povo não teve nada disso. Na verdade alguns dados até pioraram. O país se desindustrializou e os empregos pioraram, tanto em qualidade em qualidade e condições, alguns surtos de esperança seguidos de grandes achatamentos das condições de vida e trabalho, perseguição contra minorias aumentou, apesar do discurso de protegê-las, ou seja, a "democracia" não melhorou a vida das pessoas, e as pessoas estão cansadas disso.
Ou Lula entrega a democracia que tanto prometem, ou o bolsonarismo volta com muito mais força daqui a 4 anos, com ou sem Bolsonaro, porque democracia para as pessoas é poder ir e vir sem o risco de perder a vida num assalto por migalhas, é não ser perseguido e exageradamente punido por cor da pele, gênero ou condição social, é ter um trabalho digno e dignamente remunerado, é ter Saúde, Educação e Transporte. Ou seja, é ter tudo aquilo que prometem, mas que nunca entregaram.
Democracia não pode depender de quanto você tem, e muito menos ser um discurso vazio. Quem mais destrói a democracia no Brasil não é Bolsonaro, mas quem diz que vai entregá-la, mas entrega o contrário.
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