A questão principal que deveria ter sido feita por Carla Diéguez (ver texto abaixo) não é “Modernização para quem?”.
Colocando-se o termo modernização na frente, tudo se aceita, incluindo situações absurdas, que são frequentemente creditadas a não aceitação das normas pelos afetados por elas. A exploração, inclusive colocando-se em risco a saúde de pessoas, é justificada e legitimada pelo uso de tal palavra.
As condições a que muitos trabalhadores são obrigados a desenvolver suas atividades profissionais não são compatíveis com a tecnologia, e muito menos com os avanços sociais possíveis e esperados para os anos em que vivemos. Estamos em plena segunda década do séc. XXI, e o que vemos no mundo é o retrocesso, em inúmeras áreas, às condições reinantes no séc. XIX, ou mesmo anteriores.
O caso, objeto do artigo de Carla Diéguez é emblemático. Não se colocam em risco apenas aqueles diretamente envolvidos na atividade, mas toda uma coletividade citadina se vê afetada pela modernidade, sendo mesmo obrigada a mudar-se, já que o lucro máximo e o famoso custo baixo ou redução de custos, não podem ser impedidos, mesmo que o preço seja a saúde das pessoas.
A denúncia é gravíssima, e necessita medidas urgentes das autoridades trabalhistas e de saúde pública. A situação deve ser devidamente apurada e, sendo comprovada a denúncia, os responsáveis punidos, e providências tomadas para evitar que tal situação permaneça.
Por isso a melhor pergunta que Carla Diéguez poderia fazer talvez fosse “O que é modernização?” A partir daí poderíamos entender e discutir de forma mais adequada os fenômeno socioeconômicos atuais.
Modernização, para quem?
Texto publicado em 19 de Agosto de 2011 -
por Carla Diéguez *
Texto publicado em 19 de Agosto de 2011 -
por Carla Diéguez *
Segunda-feira, Portogente publicou um vídeo sobre o desembarque de clinquer no Porto de Imbituba, em Santa Catarina. O vídeo mostra as condições de trabalho a que estavam submetidos os trabalhadores portuários naquele momento. No vídeo, é possível observar os trabalhadores realizando o desembarque da carga sem o uso de equipamentos de proteção individual (EPI).
O clinquer é um produto utilizado no preparo do cimento, composto, entre outras coisas, por silício e ferro, que quando manuseado diretamente pode provocar dermatites e problemas pulmonares, sendo recomendado o uso de botas, luvas e máscaras no manuseio deste tipo de produto.
Nas imagens, vemos que o descarregamento é feito por equipamentos, sem o contato direto do trabalhador. Entretanto, o operador do equipamento e o motorista do caminhão, que aparece circulando na área, não utilizam EPIs. A reportagem ressalta que nem o Ogmo de Imbituba nem os operadores portuários fornecem ou fiscalizam o uso de EPIs. E aí vem a pergunta: cadê a Autoridade Portuária, cadê o CAP?
Devemos lembrar que o Porto de Imbituba é o único com gestão privada no País, com concessão que acabará ou poderá ser renovada em 2012. Desta forma, a AP também é agente da iniciativa privada, comprometida com os interesses do capital. Na eterna luta entre capital e trabalho, ou como diria Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista, “opressor e oprimido”, a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco.
O CAPPI também não se pronuncia sobre o assunto, talvez por serem os trabalhadores em menor número, com dois membros efetivos, em comparação com os blocos do poder público (três membros), dos usuários (três membros) e dos operadores portuários (quatro membros). Ou seja, o órgão que deveria regular e fiscalizar não possui paridade, com o capital estando em maior número.
Na segunda década do século XXI, a história é ainda a história da luta de classes, do opressor e do oprimido, das péssimas condições de trabalho e da força do capital. Modernização, para quem?
* Carla Regina Mota Alonso Diéguez é mestre em Sociologia pela USP (2007), com ênfase em sociologia do trabalho, e bacharel em Ciências Sociais pela Unesp (2001). Atualmente, é docente e pesquisadora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo com atuação nas linhas de pesquisa sociologia do desenvolvimento e sociologia do trabalho e doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (Unicamp). E-mail: cadieguez@hotmail.com.