quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Redução da desigualdade: avanços significativos, mas falta muito!


É verdade que a política do governo nos últimos anos vem diminuindo a desigualdade econômico-social no Brasil. Mas algo que salta aos olhos também, é o fato de que está havendo um empobrecimento da camada social assalariada com maior remuneração; muito maior do que o aumento salarial das camadas mais baixas. Em matéria publicada na Folha de S. Paulo (ver abaixo, na íntegra) parece claro que está havendo um repasse renda de assalariados para assalariados, enquanto a renda na extremidade superior cresce de forma vertiginosa.

O Blog dos Mercantes sempre afirmou que não é contra o lucro de empresas e seus donos e acionistas, mas o nivelamento em uma média baixa da grande maioria da sociedade é solução meia boca para os problemas do país. Os avanços advindos de tal nivelamento são altamente limitados e limitantes.

Sobram matérias na mídia que demonstram a grande quantidade de estrangeiros trabalhando no Brasil, a grande maioria dos que estão aqui legalmente em empregos de média ou alta qualificação, e com remuneração acima da média. Só no setor marítimo foram emitidos mais de 15.000 vistos de trabalho no ano passado. Postos que poderiam estar sendo ocupados por brasileiros, e que exigem qualificação mínima superior à da média.

Essa situação se estende às indústrias e ao comércio. A maior alegação para tal fato é a falta de pessoal qualificado para ocupar essas vagas no Brasil. Tal fato é recorrente em outras partes do mundo, incluindo a China com seu exército de mais de 1 bilhão de trabalhadores, que começa a se ressentir da falta de trabalhadores qualificados, e o salário começa, lentamente, a aumentar em terras orientais.

É hora de o governo começar a se preocupar seriamente com a educação, com qualidade e currículo. Não basta que as crianças estejam na escola, é preciso que a grade curricular seja adequada, e as crianças tenham condições de aprender efetivamente, incluindo línguas, o que é conhecimento determinante para o acesso a empregos de maior remuneração hoje em dia.

Enfim a política de distribuição de renda atual continuará surtindo efeito por algum tempo, tal a desigualdade existente em nosso país, mas seria bom que começássemos também paralelamente, a pensar e preparar a nação para o segundo salto, aquele que pode definitivamente colocar o Brasil entre os grandes do mundo: educação como forma de termos uma nação produtiva, criativa e participativa.


Abaixo a matéria publicada na Folha de S. Paulo.



Redução da desigualdade ainda é frágil, alerta Ipea
CLAUDIA ANTUNES, DO RIO

A redução da pobreza e da desigualdade no Brasil ainda se assenta sobre bases frágeis, pois foi puxada pela oferta de empregos de baixa remuneração no setor de serviços e comércio, aponta estudo divulgado na quinta-feira (4) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Segundo o estudo do órgão federal, dos 2,1 milhões de novos postos de trabalho criados por ano na década de 2000, 95% pagavam até 1,5 salário mínimo (R$ 817,5). Enquanto isso, a cada ano foram eliminadas 397 mil vagas com salário de 3 mínimos ou mais.

O fenômeno está ligado à mudança na estrutura da produção, afirma o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. "Não é mais a indústria que comanda, são os setores de serviços", disse.

Na década, esses setores geraram 2,3 empregos para cada vaga na indústria --a relação era de 1,3 nos anos 1970. Serviços e comércio respondem agora por 57,6% da ocupação, contra 42,6% nos anos 1980. A proporção da indústria e da construção civil (24%) não mudou.

"A sustentação dos êxitos recentes não depende só da qualificação da mão de obra. Para o longo prazo, é preciso ampliar a oferta de empregos que sejam de maior remuneração", diz Pochmann.

O estudo destaca que, em boa parte devido aos aumentos reais do mínimo, o crescimento do emprego concentrado na base salarial contribuiu para reduzir a fatia de pobres na população ativa, de 37,2% em 1995 para 7,2% em 2009.

Na classificação do instituto, a maior parte do contingente de novos assalariados foi engrossar o "nível inferior" da pirâmide social: "Não é mais pobre, mas tampouco de classe média".

Enquanto isso, a parcela que o Ipea classifica como de "nível médio" (combinando renda a fatores como escolaridade, consumo e moradia) se manteve em 32%. Os que vivem de lucro, juros, terras e aluguéis passaram de 3,9% para 14,3%.

O Ipea vê uma "polarização" entre as "duas pontas" com maior crescimento relativo na pirâmide: "os trabalhadores na base e os detentores de renda derivada da propriedade". Hoje, só 16,4% dos empregados ganham 3 mínimos ou mais, contra 28,7% em 2000 e 25,9% em 1990 (considerando valores atuais do salário).

Para Pochmann, a estagnação do "nível médio" explica parte da redução no grau de desigualdade da distribuição da renda do trabalho, que foi de 10,4% entre 2004 e 2010 --índice inédito desde os anos 1960.
"A questão é como sustentar esse padrão. Se o salário mínimo não mantiver uma trajetória de crescimento, podemos ter postos com remuneração muito baixa, e com isso não termos capacidade de reduzir mais a pobreza e a desigualdade, que ainda é muito grande."


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