sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A crise não acabou


Segundo Hildete Pereira, economista e professora universitária, que concedeu entrevista ao site Porto Gente (ver abaixo), a atual crise que apresenta seu cartão de visitas é a mesma que levou ao desemprego de milhões de pessoas em 2008. Segundo ela, a crise foi apenas colocada de lado, mas suas causas não foram efetivamente combatidas.
O Blog dos Mercantes já comentou anteriormente que as ações tomadas para debelar a avassaladora crise de 2008 não eram suficientes e que os problemas econômicos estruturais que levaram à crise não haviam sido combatidos e muito menos debelados.
Agora novamente o mundo se depara com os mesmos problemas. E ele se resume a dois pontos principais: o primeiro é a falta de regulamentação do mercado, principalmente o financeiro, que facilita a especulação e a criação de riqueza virtual. Ou seja, dinheiro não correspondente em produção e valor efetivo dos bens.
O segundo ponto é complemento do primeiro, e diz respeito à falta de fiscalização desse mercado por parte dos governos, e dos próprios governos, que transferem parte substancial de sua arrecadação ao próprio mercado através de uma série de artifícios, como subsídios, juros por títulos de dívida pública etc.
Agora a crise retorna pelos déficits do governo norte-americano e de alguns governos europeus. É outra roupagem para o mesmo problema.
E crises só servem para sugar grande parte do progresso conseguido durante o período de crescimento, causar enormes sofrimentos à população trabalhadora, e concentrar renda.
A solução oferecida pelas forças conservadoras, será a mesma que nos trouxe a essa situação. Ou nossa sociedade toma providências sérias no sentido de enfrentar os problemas econômicos estruturais que temos, ou estaremos vivendo sempre no limiar de uma nova crise.
Os tempos são assustadores para a economia mundial, avalia economista 
Vera Gasparetto 
de Florianópolis/SC
A raiz da crise econômica mundial é que o dinheiro que circula no mundo não tem contrapartida no real. Ele não pode se transformar em infraestrutura, é dinheiro fictício. Isso não se sustenta, o futuro é uma incógnita. A análise é da professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hildete Pereira de Melo, que conversou com a reportagem do Portogente.
Portogente Que crise é essa? Ela é nova ou aprofunda a crise mundial de 2008?
Hildete Pereira  É a mesma crise e aparentemente as águas serão turbulentas no mercado mundial por um tempo. A crise de 2008 ficou em stand by para o mundo. No caso do Brasil, o fato de termos bancos públicos e a política econômica ter sustentado o investimento manteve a demanda efetiva ativada, e a crise do segundo semestre de 2009 estava superada. Mas não no mundo.

Portogente E por que ressurgiu com toda a força agora?
A crise ainda não está no mesmo nível de 2008. Tem uma queda de braço política nos EUA, o presidente Obama é frágil politicamente, as eleições fizeram uma partilha de poder entre os republicanos e os democratas que aprofundou a crise esse ano nessa queda de braço na economia americana pela visão de uma direita radical, ultraconservadora, que despontou nos EUA com a eleição de um negro.

Portogente A crise econômica que assola o mundo é uma crise cíclica?
Sonhamos que haveria uma crise que acabaria com o capitalismo. Mas esta crise é cíclica, porque a crise estrutural significaria substituir o que está caindo de podre. Pelo lado da economia essa substituição não acontece. As mudanças no regime acontecem pela política e as forças do regime estão desbaratadas.

Portogente Então são as forças conservadoras que darão o tom da retomada?
Elas não deram o tom, depende da reação da população de como navegar nessas águas turvas. Tem toda a questão do multiculturalismo, a imigração massiva para a Europa, que é o Continente onde a situação é mais dramática, pois tinha um capitalismo organizado, social-democrata, as forças progressistas da Europa na virada do século XIX para o XX conseguiram um avanço democrático profundo que estão sendo abaladas pela imigração, pelo desemprego, pela desorganização do mercado e do estado de bem estar social. A crise acentuou a luta de classes que as pessoas pensaram que tinha morrido com a queda do muro de Berlim e com a derrota política do socialismo, que foi muito mais grave que as forças políticas pensavam. As forças conservadoras pensaram que tinham ganhado a guerra ideológica. A Europa avançou demais na construção de suas potências (Alemanha e França) e numa união política e monetária, mas não fizeram uma união fiscal e a política econômica ficou esquizofrênica e nesse momento esbarra em déficits colossais nas economias mais frágeis do continente, nesse momento ancoradas pelos bancos alemães e franceses, que não sabemos como resolverão esse problema das dívidas insolventes.


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