terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Financismo ao invés de produção não integra nada

Ótimo texto de Fausto Oliveira, o mais economista dos jornalistas brasileiros, embora ele negue isso. E eu concordo com ele, como também concordo com as colocações de Nelson Marconi (só para assinantes, ou no twitter), um dos principais economistas da equipe de Ciro Gomes. Uma moeda comum para as transações internacionais é um risco e uma oportunidade, mas dificílima de ser implementada.

Apesar disso não nego que uma moeda comum para transações comerciais entre os parceiros poderia ter algum impacto. Eles também não, apesar de mirarem principalmente os impactos negativos. Só que num primeiro momento a novidade e facilidade advindos de uma moeda que não o dólar teria potencial de alavancar o comércio entre os países da região. O problema é que a região não está pronta para este comércio.

Explico: como bem coloca Fausto, temos assimetrias grandes entre as economias da região, mas também complementariedades. Além do mais teríamos problemas em estabelecer o valor do câmbio de conversão entre as moedas nacionais, o "Sur" e o dólar. Além de definir esse valor, como e quem iria lastrear essa moeda?

Outro ponto é quando comparam com o Euro. Lembremos que o Euro foi implantado após várias décadas de integração comercial, econômica e social da Europa, e mesmo assim causou estragos nas economias de vários países.

Por último é importante frisar que precisamos fortalecer as relações produtivas da região e isso se faz com integração produtiva, não financeira. A financeira tem capacidade de facilitar trocas, e como os dois artigos deixam claro, de forma limitada.

Já uma integração produtiva tem capacidade de aumentar escala além da financeira, aproveitar sinergias entre as economias, incentivar a pesquisa e a inovação científico-tecnológico, melhorar as relações comerciais, fortalecer o mercado consumidor através da criação de empregos melhores e mais bem remunerados, e criar condições para a inserção da região no comércio global em condições melhores que as de um vendedor de commodities.

O financismo não é resposta para as necessidades reais. Ele no máximo é uma ferramenta, mas daquelas que pode melhorar algo, jamais resolver. Antes deveríamos resolver nossos problemas de desindustrialização, de primarização de nossas economias. Isso não impede de pensarmos em formas de aprimorarmos nossas relações comerciais, mas a monetarização delas é o último passo a ser observado.

Como eu disse, tem um potencial limitado de aumentar o comércio regional, e num primeiro momento pode causar algum impacto positivo, mas também traz todo um impacto que gerará estagnação e prejuízos, e estes se tornarão mais difíceis de serem superados, até mesmo devido a existência dessa financeirização das relações comerciais.

Mas esqueci de dizer, para os inúteis parasitas sociais é bom, afinal de contas, criarão mais um "ativo" para especulação.




Ideias monetaristas não deveriam ser o ponto de partida de um processo de integração econômica regional. A periclitante — para não dizer malograda — experiência do Euro já deveria ter informado o mundo sobre os riscos de pensar integrações geoeconômicas pela via monetarista. O artigo a seguir defenderá um viés produtivista para a integração regional sul-americana, como ficará claro ao longo da leitura. O motivo para esta reflexão, evidentemente, é o anúncio da intenção de Brasil e Argentina em estabelecer uma moeda comum para trocas comerciais e fluxos financeiros.

De cara, precisamos separar as coisas. Caso a proposta fosse de uma moeda única, em substituição ao Real brasileiro e ao Peso argentino, seria uma péssima ideia. Talvez uma tábua de salvação para a economia argentina, que é refém dos dólares que não tem, mas mesmo assim uma salvação de curto prazo: esta hipotética moeda única não teria a conversibilidade universal das moedas fortes, o que levaria o Brasil (maior PIB da região e gestor do projeto de unificação) a ter que absorver todos os choques de volatilidade, desvalorização, desequilíbrios e assimetrias. O resultado seria um desastre, concretizado em termos práticos na erosão das reservas internacionais do Brasil em moeda forte (o dólar), hoje calculadas em algo entre US$ 350 bilhões e US$ 400 bilhões.

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