segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Ótimo texto de Nildo Ouriques

O que muitos entendem como "genialidade política" de Lula eu, há muitos anos, chamo de mentiras e falta de comprometimento, que geram uma "dualidade antagônica" no atual Presidente do Brasil. Nildo Ouriques, em seu ótimo texto para o Portal Disparada, diz que é a "renúncia do presidencialismo"

Tal qual eu também venho fazendo, Ouriques aponta o fato de que Lula se perde na inação efetiva, enquanto exacerba um discurso dissonante com o poder dominante no Brasil. Isso cria a aura de que ele é esquerda, de que defende os pobres, mas no fundo está defendendo a classe dominante. É o mesmo processo dicotômico e antagônico do qual se utilizava em seu tempo de sindicato. Fazia discursos calorosos, enquanto aceitava migalhas e as apresentava aos trabalhadores como grandes ganhos. No Governo seguiu o mesmo padrão, só que mais amplo.

Por último Nildo Ouriques aponta outras formas de se intervir, e outros motivos para isso, no Banco Central. A total incompatibilidade ético-moral do atual de seu presidente, o fato de que quem elabora as políticas econômicas são os Ministérios da Fazenda e do Planejamento (e eu incluo a Indústria e Comércio), e principalmente, o fato de que Lula é um "cara de esquerda", mas só nomeou neoliberais para Ministérios, além de ter criado uma série de Ministérios identitários para acomodar um pessoal que acha que isso é ser esquerda.

E enquanto brincamos de dizer que neoliberais são esquerda, enquanto brincamos de achar que planilhas geram riqueza, e enquanto brincamos de Presidencialismo em que o Presidente não manda nem no cachorro dele, o país vai descendo a ladeira cada vez mais rápido.

Sugiro a leitura do texto do Nildo Ouriques. 


A renuncia do presidencialismo é a nota dominante na atuação de Lula no terceiro mandato. Nos dois anteriores (2003-2010) o atual presidente sabotou diariamente as prerrogativas do regime presidencial brasileiro e, em consequência, cavou o abismo sob seus pés. A continuidade da podridão do sistema político produzido por FHC com a farsa do “presidencialismo de coalisão” seguiu seu curso normal azeitado pelo “financiamento não declarado” das campanhas eleitorais do longo período petista. O postulado vulgar segundo a qual “ninguém governa esse país sem o PMDB” ou “sem maioria no congresso” aprofundou a miséria ético-moral do PT, revelou-se uma falácia completa diante da desmoralizante destituição de Dilma em 2016 e contribuiu notavelmente com a podridão do sistema político acusado pelo protofascista Bolsonaro em 2018.

A impotência de Lula e dos lulistas diante da grave situação nacional é expressa na enorme quantidade de ministérios criados com a pretensão de ganhar apoio no parlamento, sabidamente um covil de ladrões insaciável e sempre disposto a novos assaltos; ao contrário do engodo petista, o toma lá da cá se realiza sem qualquer garantia de fidelidade. A conduta de Lula alimenta a crise e objetivamente bloqueia a necessária passagem da consciência ingênua para a consciência crítica indispensável para enfrentar a direita. Ao contrário do que pensam os eternos defensores da prudência, a atuação de Lula alimenta tão somente a redução da política à moral (a via filantrópica das chamadas políticas sociais) e move águas para o moinho da ofensiva da direita ainda em curso.


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