segunda-feira, 22 de maio de 2023

Sinais enviesados, ações contraditórias

O Governo Lula precisa, antes de qualquer coisa, definir suas linhas de ação estratégica e buscar um posicionamento mais equidistante em relação a determinadas questões. Isso não significa que não se pode conversar com os lados, nem que o Brasil não possa articular com eles, mas há que se ter cuidado nessas articulações.

O encontro sediado pelo Exército Brasileiro em território nacional, e que trás representantes das forças armadas de muitos países a território nacional para debates sobre temas variados sobre defesa em diversas áreas não é um erro, mesmo que boa parte desses países esteja aglutinado numa organização militar defasada e anacrônica. 

Mas esse encontro tem que ser encarado com bastante reserva. Primeiro porque entre nações dificilmente há "amizade", mas tão somente interesses. Esses interesses podem convergir por mais ou menos tempo, mas eles podem, e normalmente variam ao longo do tempo. Na WWI a Itália cavou trincheiras contra a Alemanha, na WWII ela as cavou ombro a ombro com os alemães. Apenas 21 anos se passaram entre os dois eventos.

O segundo ponto que baseia minha intromissão aqui é o fato de o mundo multipolar interessar (e muito) ao Brasil. Mas um mundo multipolar não pode ser o mundo de uma nova Guerra Fria, ainda que o atlanticismo busque levar o desenvolvimento das ações para esse lado com todas as forças. O mundo multipolar precisa ser um mundo onde a cooperação e a diplomacia tenham um papel mais relevante que o das ameaças e o das balas (a China vem representando bem esse papel), e isso não significa abrir mão de suas Forças Armadas, até porque preponderância não é exclusividade, e não há multipolaridade sem poder dissuasório.

Mas é imprescindível que não se adira a nenhum lado nesse momento, porque o Brasil já tem e só pode ter um lado: o do Brasil.

Então é interessante que o General Theophilo Gaspar de Oliveira receba todos os representantes de forças armadas estrangeiras, que se debatam estratégias e conhecimento, mas é ainda mais importante que o Estado Brasileiro acompanhe essas ações e garanta a independência do Brasil frente ao mundo.




Por MANUEL DOMINGOS NETO*

Exército promove evento que aprofunda os laços do militar brasileiro com Washington

Lula empenha-se pela paz em um mundo crispado. Exorta beligerantes e atores decisivos às negociações para finalizar a guerra. Projeta seu nome e resgata a diplomacia brasileira. O que pretende Lula quando permite uma demonstração de alinhamento do Exército brasileiro aos Estados Unidos e a seus fiéis escudeiros no teatro ucraniano?

Trata-se do evento intitulado “I Seminário Internacional de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro”, marcado para o final deste mês, em Brasília. O Exército receberá representantes de “nações amigas” para atualizar princípios doutrinários a partir das novidades apresentadas na guerra em curso. Longe de ser convescote diplomático-militar, estarão reunidos homens preocupados com o preparo e emprego de tropas.

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