sexta-feira, 26 de maio de 2023

William Waack está enganado

Sim, William Waack está enganado. Se tivéssemos uma política realmente ideologizada entre esquerda e direita, se tivéssemos um povo realmente politizado que entendesse a importância do voto em suas várias escalas, então sim, esse absurdo eleitoral que tivemos em 2022 seria algo que o povo tivesse feito de forma consciente e premeditada.

Mas não, nosso povo exerce uma política apenas extintiva, e vota de acordo com uma série de influências locais, sendo que quase nenhuma delas tem base na ideologia direita/esquerda. Nosso povo também não entende a importância do voto nas diversas esferas de poder, não entende a importância do voto nas diversas esferas de poder, e crê que a Presidência da República é uma espécie de poder imperial que se impõe sobre tudo e todos, só que não é assim.

Só que isso não é um defeito genético de nosso povo. Mais de 90% da população da Terra tem a mesma percepção que nossa população. As pessoas vivem seu dia-a-dia, buscam sua subsistência, seus relacionamentos, seus sonhos, suas esperanças, decepções, e frustrações, e acabam por ter as mesmas reações frente à política, acreditando que o voto num poder imperial irá resolver suas vidas, e os outros são apenas penduricalhos no processo.

Isso explica os votos que configuraram nossas atuais lideranças políticas de alto escalão na República, mas o que explica a faca no pescoço de nossos últimos Presidentes não são os votos, mas a postura e os acordos dos próprios eleitos ao Planalto, que comumente atendem aos interesses de poderosos grupos de poder, e nenhum desses grupos é do povo.

O outro viés que explica a situação é o fato de há mais de 30 anos vermos os líderes máximos da República cederem a pressões de grupos políticos pouco republicanos e muito fisiológicos. A cada vez que um Presidente cedia a essas pressões ele distanciava a Presidência do povo, e ainda perdia poder, enquanto esses grupos ganhavam poder.

O processo que vemos no momento não é fruto dos votos de 2022, mas de um processo em que Presidentes fracos, cooptados por grupos de poder e chantageados por grupos políticos pouco republicanos enfraqueceram a Presidência da República e criaram um regime em que o Executivo, que deveria ser o poder mais forte da República se tornou refém do Judiciário, e principalmente do Legislativo, que hoje acumula funções que não lhe correspondem.

A crise atual (e que já vem de alguns anos) não é devido aos últimos votos, mas ao processo e ao modelo que adotamos, que minou o principal poder do país, e que o deixou absolutamente refém de poderosos grupos de poder. A República precisa ser refundada. Mas não dá para estarmos a refundar a República a cada 30 anos, precisamos realmente criar instituições que representem o povo e que atuem para o povo.



William Waack: Brasil vive inédita experiência de divisão de poder

Lira e Pacheco sinalizaram a Lula que o que já foi aprovado no Congresso não cairá por decreto

O que acontece nestes instantes entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Congresso é exatamente o que quiseram os eleitores nas eleições do ano passado: o presidente de esquerda está sendo severamente limitado por um Congresso de centro-direita.

E estamos falando de matérias essenciais para a economia. Por exemplo, a fórmula para tratar das contas públicas entrou de um jeito no Congresso e saiu de outro, bem mais restritiva para o governo, ainda que preserve sua licença para gastar –e gastar muito.




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