segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Ótimo artigo de Ciro Gomes

Ciro Gomes responde Arminio Fraga, exatamente no mesmo canal onde o economista do tripé macroeconômico se expressou: a Folha de São Paulo. Como não sou mais assinante da Folha, então consegui o artigo de Ciro abaixo por outro meio, e parte do artigo de Armindo Fraga no 247. E vale a pena dar uma olhada direta nos dois artigos, mas eu vou tentar resumir os dois nesta postagem.

Vamos lá, Armindo Fraga começa com um truísmo, de que a principal tarefa é manter a inflação sob controle. Primeiro que a principal tarefa de um BC é dada pela diretriz de economia política que a sociedade pactua. Temos outros BCs cuja principal tarefa não é exatamente essa, ou essa está atrelada a condicionantes.

Em seguida Fraga dá exemplos de inflação (demanda, choque de oferta, etc.), mas não atenta que a principal causa de nossa inflação é de custos. Sim, custos, originário principalmente da alta do dólar, numa economia exageradamente dolarizada como a nossa. 

Na sequência ele explica como se utiliza a taxa de juros (Selic no Brasil) para combater a inflação, ou simplesmente esperar que a inflação volte lentamente a sua meta. Conclui falando das mazelas que, tanto a elevação da juros, e consequentemente da dívida pública, assim como do aumento descontrolado da inflação. Ambas as situações levam ao descrédito na economia, retração de investimentos, e possível descontrole da própria inflação.

Estamos numa encruzilhada entre choque de oferta e aumento da dívida pública, e a combinação de ambas E é aqui que Ciro Gomes entra em sua crítica a Fraga, porque segundo o próprio Ciro, o economista do tripé detectou o problema, apontou a causa, mas se recusa a enxergar que a solução passa pela mudança do paradigma econômico.

O texto de Ciro está abaixo, mas o que Ciro mostra é que aquilo que Fraga diz ser a salvação da economia brasileira tem dois vieses principais. O primeiro é conseguir o equilíbrio fiscal, e isso é ponto quase que pacífico em todas as correntes. Porque não há como fazer um país crescer de forma sustentável sem o tão propalado equilíbrio fiscal.

E é aqui que Ciro diverge de Fraga, já que o economista quer, e insiste em buscar o ajuste fiscal apenas pelo lado do aperto de cinto, ou seja, diminuição de despesas, corte de salários, redução de investimentos, enquanto Ciro deixa clara sua posição na afirmação: "...não é admissível que a forma de conseguir equilíbrio fiscal seja proibir o país de crescer, como prega o atual modelo." Porque o atual modelo justamente alimenta os desequilíbrios que vemos ciclicamente na economia brasileira.

Então precisamos trocar o modelo. Ajuste fiscal não é finalidade, como defendem o "Deus Mercado", e seus economistas de momento, mas meio. Além disso não pode ser usado de forma a que mate a economia por outro lado. Se a inflação, o aumento exponencial da dívida, a diminuição da produção, tudo isso faz com que a economia padeça de estagnação ou até recessão, o remédio para evitar isso não pode ser aquele que aumentará esses sintomas. 

E é justamente o que o tripé macro-econômico tem feito durante todo esse tempo. Agora é mais nítido, já que nossa economia está mais fragilizada, mais vulnerável ao câmbio e à produção externa, mas até isso é devido ao paradigma errado de controle da inflação a qualquer custo.

Porque o custo social de não se ter emprego e renda alguma é o que ele tem gerado.

A rede está furada

NONE OCTOBER 15, 2021

Com uma metáfora de pescaria ("Banco Central age como se estivesse pescando com uma linha fina", 31/10), o sempre elegante economista Arminio Fraga fez, em sua coluna na Folha, uma análise sobre as dificuldades da economia brasileira.

A qualidade de forma e a massa de informações do texto, contudo, não conseguem esconder que ele não acredita mais cegamente no modelo que defende e que ajudou a aplicar. Para não perder a metáfora piscosa, e apoiado nas entrelinhas do seu texto, eu mudaria o título do seu artigo para "A rede está furada".

...

Concordo que a chave para mudarmos os desequilíbrios da economia passa pela construção de um arcabouço fiscal sustentável no tempo. Fluxo, mas especialmente estoque, como enfatiza Arminio. Mas não é admissível que a forma de conseguir equilíbrio fiscal seja proibir o país de crescer, como prega o atual modelo.

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