sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Racismo ou defesa da inocência, e a defesa do ensino público.

A ignorância ideológica de parte significativa de nossa sociedade é um problema sério, que só será superada com muita Educação. E essa Educação precisa incluir as Ciências Humanas, como a Filosofia, ministrada pela Professora da escola Vitória Régia, e que foi tão violentamente atacada por pais de alunos de uma turma específica.

Vejam, segundo a nota houve a reação de parte dos pais e alunos, uma alteração de abordagem do tema pela docente, mas a coisa não parou por aí. É, a docente pelo jeito se sentiu cerceada em seu trabalho, e fez algumas postagens em sua rede social que tinham relação com o ocorrido. O que era para ter sido resolvido facilmente virou um afastamento da docente da turma, e a impossibilidade dela para intervir na formação de novos cidadãos.

Isso deixa margem a muitas visões, a muitos posicionamentos distintos. O primeiro é o posicionamento da escola. Começa que é uma escola particular, e como eu disse em texto de 15/11, os objetivos de empresas privadas e do Estado são distintos, ainda que as ferramentas para atingi-los podem ser as mesmas. A escola privada tem por objetivo o lucro, já a escola pública tem por objetivo a formação de cidadãos. Para as duas a Educação é meio, mas esse meio será usado de forma diferente, porque tem objetivos diferentes.

Segundo o objetivo dos pais e alunos. No mundo individualizado e competitivo atual se dá muita ênfase à formação técnica, e pouquíssima à formação de cidadãos, das pessoas. Isso contrasta com o objetivo que deveria ter o Estado. 

Terceiro o da Professora, que se sentiu tolhida em sua liberdade docente, e se manifestou publicamente em tema que até então era tratado internamente. 

A escola agiu de acordo com seu objetivo, que é o lucro. Os pais dos alunos e os próprios alunos agiram de acordo com seus objetivos, que são individuais, e voltados a tentar galgar degraus numa sociedade cada vez mais competitiva, e a professora agiu de forma também individualista, já que se sentiu afrontada, e sem respaldo da escola.

De certa forma todos estão certos, e todos estão errados.

Nesse ponto entra o papel do Estado como responsável máximo e único da Educação. Sim, porque a Educação tem por finalidade formar técnicos capazes de enfrentar um mercado de trabalho, mas também tem por finalidade formar cidadãos, que entendam que determinadas situações não são resultado da Fortuna ou do acaso, mas construções sociais que visam a privilegiar grupos específicos, cada vez menores, em detrimento da grande maioria da sociedade.

Por isso todos estão certos em defender seus pontos de vista individuais. A escola seu direito ao lucro máximo, os alunos e pais o direito a buscar apenas ferramentas que os possibilitem galgar melhores degraus na luta por melhores posições sociais, e a Professora seu direito a ministrar sua matéria da forma que considera mais adequada. Mas ninguém atentou que estão todos errados porque o sistema é errado.

Sim, porque como dizia Paulo Freire, a Educação tem que ser libertadora. E isso significa que só a Educação tem capacidade de nos libertar das amarras que nos prendem a ciclos infindáveis de reprodução de sistemas opressores e discriminatórios, que reduzem o ser humano a peças de uma máquina social. E somente o Estado teria capacidade de dar o respaldo que pode libertar as pessoas dessas amarras.

Por isso tantos ataques ao Estado. 

Porque a existência de um Estado forte não garante uma Educação que propicie o rompimento dessas amarras, mas com um Estado fraco, ou quase inexistente, isso se torna impossível.



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