sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Não vou votar na Miss Simpatia da escola

Esse é um texto que tenho pensado em escrever já há algum tempo. O motivo me parece mais do que óbvio, mas para quem não entende eu tentarei explicar abaixo.

Tenho visto muita gente reduzindo (por ignorância ou má-fé) a disputa eleitoral a uma disputa de preferências absolutamente subjetivas, a simpatias geradas por aparências ou por mais ou menos carisma de um determinado candidato. Tais critérios são ótimos, claro, mas para escolhermos os nossos artistas preferidos, os nossos times do coração, ou nossos amigos, e coisas que sejam subjetivas, e jamais para escolhermos um político.

E por que esses critérios subjetivos não servem para escolhermos políticos?

Porque políticos não são nossos amigos, não são objeto de diversão. As eleições não são campeonatos de futebol, porque políticos são eleitos para executarem tarefas objetivas, e porque suas ações afetam muito diretamente nossas vidas, muitas vezes por décadas.

Vejam, a política não é um evento grandioso que ocorre a cada 4 anos, como uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada, e nós não somos meros espectadores. Nesses eventos esportivos buscamos nos maravilharmos com os desempenhos de atletas extraordinários, ou com a garra de atletas tecnicamente não tão bons, mas que estão dispostos a participar com todas as suas forças. Passado esse momento de júbilo voltamos a nossas vidas normais. Ou seja, esses eventos esportivos são fins em si mesmos, e eles nos deixam boas lembranças, mas não guiam os destinos de nossas vidas.

Ao contrário, as nossas relações com políticos e eleições não são fins em si mesmo. Passadas as eleições nossas vidas não voltam ao normal, mas passam sim, a ser regidas pelas ações dos políticos eleitos naquele momento único do voto. Ou seja, eleições são meio, e também são início. A eleição não defini quais os políticos irão passar os próximos 4 anos ganhando um salário do Estado, e tudo ficará do jeito que está. 

Ao contrário, as eleições definem os políticos que irão influenciar nossas vidas nos próximos 4 anos (8 anos se forem Senadores). São esses atos que irão dizer se teremos mais ou menos comida em nossas mesas, se teremos mais empregos, se esses empregos serão decentes, se serão bem remunerados, se nosso poder aquisitivo será melhorado ou piorado, se teremos melhores ou piores condições de vida.

Todas essas condições são regidas pela política e pelo Estado. A política porque faz os arranjos que irão criar condições para que isso se realize, e o Estado porque irá executar essas políticas, através do governo de ocasião. E por isso é importante que esses arranjos sejam institucionalizados, já que isso os torna política de Estado, e não de um governo específico, além de darem condições de que isso se sedimente pelo tempo.

Mas como o brasileiro, de modo geral, vem tratando eleições como se fossem campeonatos de futebol, bem então a maior parte da população tem perdido direitos e possibilidades de avanço em suas vidas. Sim, porque o Estado ficou engessado em sua condição de investir e com isso quem tem recursos próprios encarece seu crédito. A grande maioria da população teve suas condições de aposentadoria deterioradas ou impossibilitadas, enquanto uma pequeníssima parcela foi beneficiada em suas condições de aposentadoria. A massa trabalhadora brasileira teve suas relações trabalhistas aviltadas, deterioradas. O poder aquisitivo do salário do brasileiro foi destruído. As relações sociais, a miséria, tudo foi deteriorado ou aumentou muito por conta de arranjos políticos que atendem apenas a um grupo mínimo, em detrimento da imensa maioria da população.

Já passou da hora de o brasileiro entender que não adianta um político dizer que quer melhorar a vida do povo, quer desenvolver o país, quer trabalhar por áreas nevrálgicas como saúde, educação e segurança. Ele tem que dizer como, e talvez até mais importante, de onde virá o dinheiro. Sim porque tudo isso custa dinheiro, e apesar de vários desperdícios, o fato é que hoje em dia ele falta no orçamento do governo, então se um político diz que quer trabalhar por essas pautas, ele tem que dizer de onde virá o dinheiro novo, ou de onde tirará recursos para investir nas necessidades da população e de avanço do país.

Preste mais atenção ao seu candidato. E não se limite ao candidato a Presidente, ou Governador, ou Prefeito. Porque tão importante quanto eles são os Senadores, Deputados e Vereadores que elegemos, porque são eles que dão governabilidade, que dão condições do executivo atuar ou não.

Quando vamos às urnas não vamos votar na miss simpatia da escola, mas em pessoas que vão definir como será nossa vida nos próximos 4 anos ou mais. Ser simpático é legal, mas de forma alguma é a condição principal.


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