Na última sexta-feira o PDT lançou oficialmente a pré-candidatura de Ciro Gomes. Como não podia ser diferente, o ponto alto do evento foi o discurso do político - apesar de nem Ciro nem eu gostarmos de personalismos na política, fato é que uma pessoa precisa liderar um processo político, então há sim uma exaltação dessa pessoa, e uma certa personificação desse processo. Então vamos fazer uma análise do discurso de Ciro, porque nele foi nele que o Partido resumiu suas ideias para os 4 anos de governo de Ciro, caso eleito.
Ciro começou enfatizando o novo lema de sua pré-campanha "a rebeldia da esperança". Como ele diz "Rebeldia sem esperança é a rebeldia sem causa, e esperança sem rebeldia é um sonho que nasce como muitos outros, moribundo". Sim, porque nos virá sempre à mente as duas perguntas respectivamente: "rebeldia com que, para que?", e "esperança, mas o que você faz para algo mudar?" Na sequência Ciro fala daqueles que serão mais beneficiados com seu programa. Mães solteiras, trabalhadores, empreendedores, pequenos produtores, estudantes, crentes em Deus. Fala da miscigenação da nacionalidade brasileira, e que isso é uma fortaleza que nos levou a ter as melhores profecias, mas que elas não se cumprem porque não deixam. E lembra dos mais de 621 mil mortos pela pandemia e atrela isso à ignorância e ao desinteresse de boa parte dos políticos para com o povo, e diz que seu "patrão é o povo e a pátria sua única patroa". Nessa parte do discurso ele definiu para quem se destina o plano de governo, que isso é possível, e que não se faz devido aos desvios que a política vem promovendo por interesses outros que não o povo e a pátria.
Depois ele mostra as similaridades dos governantes que ocuparam a Presidência do Brasil desde a primeira eleição direta pós-redemocratização, sem deixar de pontuar que existem diferenças pessoais entre eles, e fala o que é o seu plano de governo, o que ele pretende do Estado, da iniciativa privada, as metas a serem atingidas, o que precisa ser mudado, terminado, e começado, dá exemplos internacionais, etc, como vem fazendo em todos os seus discursos, aulas e entrevistas há muitos anos. Claro que tudo de forma mais geral, já que um plano desses não se detalha em um discurso de pouco menos de uma hora, e para detalhá-lo de forma muito clara necessitaria de varios dias.
Mas dois pontos se destacam nessa parte. A primeira é quando afirma que vai cobrar impostos dos ricos, modernizar a estrutura tributária brasileira, e que irá irá desonerar pobres e produção. Afirmou com todas as letras, o que marca de forma definitiva sua posição nesse quesito.
Nesse ponto só não gostei do "tremer de medo" para alguns poucos milhares de brasileiros. Convenhamos, pareceu uma ameaça, e não é. Não é porque as alíquotas propostas por Ciro são módicas, chegam a ser tímidas, e em nada mudará a pirâmide social brasileira, ou seja, eles seguirão sendo os mais ricos do Brasil, e com imensa vantagem sobre o restante da população. E não gostei do tom de ameaça que isso adquiri, ainda que eu entenda que serve para motivar e mobilizar a militância. Sim, porque é preciso ter cuidado para não perder o tom, e o controle.
Em compensação achei ótima a forma como abordou as críticas à candidatura Sérgio Moro, já que inicia a falar de sua política de segurança pública justamente pela grande pauta de Moro, o combate à corrupção. Ele fala como fará esse combate, e depois dá o melhor detalhamento até hoje de seu plano de segurança pública. Mas o principal é que diz que esse plano ainda está em discussão, e portanto deverá ter mudanças, acréscimos e aperfeiçoamento de ações.
Por fim diz que seu governo terá as mulheres como o motivo principal de suas políticas - ainda que não as únicas. E o principal, diz que suas propostas deverão ser discutidas no Congresso, mas também passar por plebiscito (já tinha dito algo nesse sentido antes, mas fazia tempo que não trazia o tema a debate).
Mas talvez o principal de seu discurso é que diz ser ele sua "carta aos brasileiros", ou seja, ao invés de um compromisso em que diz que irá atender a todos os interesses da classe dominante e da estrutura de Estado criada por ela, ele diz que irá atender aos interesses do povo, suas necessidades, e irá dar-lhe condições de emancipação, seja com Educação, seja com oportunidades no empreendedorismo ou com o crescimento do país e dos bons empregos.
Se ele se elegerá é o primeiro grande obstáculo que o pdtista precisa ultrapassar, e o segundo, uma vez eleito, será implementar tudo isso o que diz, já que os interesses que irá contrariar são de gente poderosa, tanto interna, quanto externamente. O primeiro passo é assumir os compromissos, e isso ele faz há tempos.
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