segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Alvarez & Marsal e ética

Após ter deixado o Ministério da Justiça, onde teve uma atuação que podemos considerar no mínimo ruim, Sérgio Moro ingressou na empresa Alvarez & Marsal, onde entrou como sócio-diretor (algo comum nos escritórios de advocacia americanos para empregados que dão muito retorno) e diz ter atuado no setor de compliance.

Tudo ótimo, não fosse o fato de a empresa de advocacia ser responsável pela massa falida de algumas gigantes empreiteiras brasileiras que foram quebradas pelo Sr. Sérgio Moro, quando ele ainda merecia o título de Meretíssimo. Como Juiz ele prendeu o principal candidato de uma campanha a Presidência e quebrou gigantescas empresas de construção civil. Logo depois deixou a toga e foi ser Ministro da Justiça do ganhador da eleição, e quando foi demitido foi trabalhar para a empresa responsável pela massa falida que ele ajudou de forma central a criar.

Poucas coisas podem ser consideradas mais antiéticas que isso.

E o TCU abriu inquérito para apurar a relação de Moro com a Alvarez & Marsal. Com isso o pré-candidato acabou por mostrar um contra-cheque na última sexta-feira (28-01), afirmando que não enriqueceu na empresa e que seus polpudos ganhos não foram pagos pelas massas falidas por ele. Ora, segundo informações da imprensa essas massas falidas são responsáveis por 78% do faturamento da A&M, e não existe dispositivo que divida esse faturamento dentro de uma empresa.

Da mesma forma ele diz ter um contrato de trabalho que diz que ele não poderia interferir nos assuntos dessas massas falidas criadas por ele. Ora, eu já tive contratos de trabalho que diziam que eu só trabalharia 44 horas por semana, que receberia horas extras caso ultrapassasse essa jornada, e cheguei a trabalhar 80 horas semanais sem receber um centavo a mais, nem mesmo tive compensação desse tempo em folga. Então, contrato não significa nada, ainda mais quando executado entre dois contratantes que podem ter o mesmo objetivo.

Mas a questão não é legal ou ilegal, a questão aqui é ética. E ética é algo que Sérgio Moro demonstra ter de forma muito maleável desde sua atuação como juiz. Ele mesmo já disse que chefiava a Lava-jato, quando sua tarefa era apenas julgar os casos de forma imparcial. Ele se colocou nitidamente ao lado da acusação, seja facilitando sua atuação, seja prejudicando a defesa. Como Ministro da Justiça compactuou com crimes e desvios que até poucos meses atrás dizia serem hediondos e imperdoáveis, e saiu apenas quando viu que seu aparelhamento de alguns órgãos de estado estavam sendo revertidos por um aparelhamento do atual Presidente. Por fim foi trabalhar na empresa administradora das massas falidas das empreiteiras que ele ajudou a quebrar, e não importa se ele trabalhou ou não diretamente com essas massas falidas, porque só de ter aceitado esse trabalho ele já feriu uma coisa chamada ética.

Para culminar isso tudo Moro, como sócio-diretor de uma empresa sediada em Nova Iorque foi morar em Washington. O que o ex-juiz foi fazer tão longe da sede de sua empresa?

Do ponto de vista puramente individual sua atuação foi perfeita. Ganhou dinheiro, ganhou poder, ganhou projeção. Mas a vida não pode ser encarada apenas do ponto de vista individual, ela precisa ser encarada também do ponto de vista social, e é aí que entra a ética, justamente para conter excessos individuais, porque se ela não existe, então tudo e qualquer coisa começa a ser permitido para que obtenha o ganho individual. Mas ética é algo que Moro conhece, mas finge não conhecer.

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