segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Debate da Band

Na última quinta-feira, 09 de agosto, foi realizado o primeiro debate para a Presidência da República. Oito dos nove candidatos, que por regra deveriam ser chamados estavam presentes. O ausente era Lula, que está preso em Curitiba. A questão de sua prisão ser justa ou não é outra história. Como não tinha seu candidato oficial, o PT tentou colocar no debate seu candidato "plano B", e não foi atendido na solicitação.

Com esse quadro tivemos Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Marina Silva, Henrique Meirelles, Álvaro Dias, Geraldo Alkimin, Jair Bolsonaro e Cabo Daciolo. O único a lembrar a ausência de Lula foi Guilherme Boulos.

Estando fora do debate o PT tentou fazer um debate paralelo pela internet, tendo presentes apenas seus candidatos, possíveis candidatos e simpatizantes. Apesar da pouca audiência durante o debate da TV, o número de acessos aos vários meios que veiculam o debate petista aumentaram sensivelmente, como era de se esperar.

No debate da TV um show de horrores, quebrado por 4 candidatos apenas, cada um com uma característica e um motivo diferente. Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Geraldo Alkimin e Jair Bolsonaro foram esses candidatos. Os outros 4 candidatos tiveram participação ruim, piegas ou, em alguns momentos, patéticas. Mas mesmo os 4 que se salvaram tiveram desempenho pífio, principalmente pela falta de propostas efetivas, pela "deturpação" de fatos, pela ocultação de outros tantos.

Exemplos disso foram Meirelles ao afirmar que comandava a economia do país durante o governo Lula. Ora, como presidente do Banco Central ele era subordinado ao Ministro da Fazenda, esse sim o comandante da economia, não ao contrário. Álvaro Dias defendia retirada de privilégios (privilégios que ele não conseguiu obter, porque tentou), ou a questão de sua popularidade no governo paranaense, que caiu durante seu governo e quando o deixou estava muito aquém dos 93% informado pelo Senador, e tentou levar louros do combate a corrupção, mas de forma genérica, sem ser claro no como. Marina tentou levar louros da transposição do São Francisco, quando é de conhecimento público que ela colocou uma série de entraves ao desenvolvimento do projeto. Cabo Daciano chegou às raias do bizarro, ao falar de comunismo, de URSAL e com o mesmo discurso vazio que todos os candidatos mostraram até hoje sobre os problemas políticos e econômicos do país. Isso é um resumo, mas mostra o grau de superficialidade com que esses temas foram tratados e como esses candidatos tentaram se apropriar ou "deturpar" fatos.

Agora vamos aos 4 que se salvaram.

Guilherme Boulos - O candidato pelo PSOL começou sua participação já de forma polêmica, reclamando pela ausência de Lula devido a prisão "injusta". Logo no início partiu para cima de Bolsonaro, chamando o Deputado de machista, homofóbico, misógino, etc. A pergunta foi pertinente, sobre a situação de Wal, uma funcionária "fantasma" de seu gabinete, e que teria por finalidade cuidar de seus cães em Angra dos Reis. A resposta foi evasiva, e a réplica foi ofensiva, como havia sido a pergunta. De mais Boulos defendeu um país voltado aos mais pobres, às minorias, e aos movimentos organizados. Quem paga a conta seria o "andar de cima". Tudo muito lindo, mas tudo muito inexequível. O candidato paga pela inexperiência, e ainda que o discurso seja bonito, a prática não se materializa sem grandes traumas.

Geraldo Alkimin - O velho político psdbista voltou a levantar a bandeira da concorrência, da desregulamentação das relações trabalhistas, abertura comercial, privatizações, etc. Inclusive afirmou aprofundar alguns dos desmanches  pelo governo golpista, como a reforma trabalhista, e as privatizações. Esse receituário está em desuso em todo o mundo, mas segue vivíssimo no receituário do anacrônico candidato e seus seguidores. Se estranhou um pouco com Marina, mas sem perder a fleuma e a postura.

Jair Bolsonaro - O candidato do PSL melhorou bastante, sem deixar de lado suas posições polêmicas, o que mostra que está sendo muito bem instruído por seus assessores. Deixou claro que seu lado é do grande empresariado financeiro, agrário e estrangeiro, tendo espaço ainda para o grande empresariado produtivo nacional (ou do que restou dele), mas de forma alguma prioritário.

Ciro Gomes - O candidato pdtista voltou a mostrar domínio dos números, e começou o debate marcando posição distinta em relação ao candidato psdbista. Mas isso não se consolidou ao longo do debate, porque acabou por surfar na onda da propaganda pessoal, ficando suas propostas e posições em caráter secundário. Quase que chocou a audiência, e desnorteou Bolsonaro, ao afirmar que tiraria os nomes de 63 milhões de pessoas do SPC.

Resultado

Tirante Boulos e Cabo Daciano, que são "franco atiradores" nesse processo eleitoral, todos os outros candidatos acabaram por se segurar em posturas receosas, defensivas, buscando muito mais enaltecer boas gestões pessoais e realizações que já entregaram, e/ou posições ideológicas tidas como consenso e/ou corretas para seus eleitorados. Boulos e Cabo Daciano também estavam impregnados de ideologismo, assim como todos os seres humanos, mas as posições de ambos ultrapassaram esse patamar ideológico, passando a defender e atacar posturas de forma mais veemente, já que pouco tinham a oferecer em termos de vida pública, não pela pouca idade, mas pela pouca experiência de ambos. 

Ciro, Marina, Álvaro Dias, Merirelles, Alkimin, enfim, todos os outros, já tiveram experiências administrativas e tinham vitórias em suas administrações para serem mostradas, e nisso tentaram focar o "debate", como forma de mostrar qualidades, eficiência e capacidade de realização.

Como debate em si o evento foi muito superficial, poucos foram os momentos de divergências de postura e de apresentação de propostas. Podemos levar em conta que foi o primeiro debate, que os candidatos estão ainda marcando campo, se estudando, e que não se gastam todas as munições no primeiro ataque, mas a verdade é que o evento da Band não marcou nada, mostrou muito pouco dos concorrentes ao cargo máximo da República, e de pouco serve para o eleitor se basear e tomar posição.

Ciro foi o melhor, porque só ele apresentou alguma surpresa interessante, mas seguido de perto por Bolsonaro, Alkimin e Boulos. Os direitistas porque mantiveram um padrão (gostando ou não desse padrão), o esquerdista por mostrar a mazela dos dois candidatos de direita, claramentes continuadores do regime que ora governa o país. 


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