segunda-feira, 27 de agosto de 2018

"Plano" de governo de Jair Bolsonaro

O candidato a presidente Jair Bolsonaro lançou seu plano de governo. Abaixo transcrevo o artigo da revista Forum, que dá suas impressões sobre o documento. No final do texto há um link para quem quiser se aprofundar no plano do candidato.

Pessoalmente achei superficial, passando muito mais por um manifesto ideológico do que por um plano de governo. 

14 DE AGOSTO DE 2018, 19H57

Plano de governo de Bolsonaro mais parece um grupo de Whatsapp de direita em forma de documento

Em 81 páginas, o plano de governo de Jair Bolsonaro não apresenta soluções concretas para os problemas do país, fala o tempo todo de "Deus" e se apega a discursos vazios como "acabar com a doutrinação marxista" e a influência do "Foro de São Paulo"; ao falar de segurança, o candidato chama o golpe de 1964 de "revolução", propõe porte de arma aos cidadãos e redução da maioridade penal. Saiba mais:

Jair Bolsonaro (PSL-RJ) oficializou, nesta terça-feira (14), sua candidatura à presidência da República e divulgou seu plano de governo. Intitulado “O caminho da prosperidade”, o plano do deputado federal para o país mais parece um grupo de Whatsapp de direita em forma de documento, com ideias superficiais, sem propostas concretas para resolver os problemas do país, acusações infundadas à esquerda e ao PT, menção à “Deus” o tempo todo e teses conspiratórias que sequer são levadas a sério pela direita liberal e que só são observadas entre os apoiadores que chamam Bolsonaro de “mito”, como a “doutrinação marxista”, segundo o candidato, presente no Brasil, ou a influência do “Foro de São Paulo”.
Com um versículo bíblico, o plano do militar da reserva começa com a proposta de um governo “decente” e com a defesa da propriedade privada. “Seu celular, seu relógio, sua poupança, sua casa, sua moto, seu carro, sua terra são os frutos de seu trabalho e de suas escolhas! São sagrados e não podem ser roubados, invadidos ou expropriados!”, diz o documento.
O plano segue fazendo uma enfática defesa da “família” e salientando que o candidato é contra “qualquer regulação ou controle social da mídia” – dizendo, em outras palavras, que manterá os monopólios e oligopólios midiáticos que sufocam a pluralidade de opiniões no Brasil.
As teorias conspiratórias típicas de grupos de Whatsapp começam a ganhar mais destaque no plano de governo de Bolsonaro quando é citado que nos últimos 30 anos o país esteve submetido ao “marxismo cultural e suas derivações como o gramcismo”, que teriam, segundo o candidato, minado “os valores da Nação e da família brasileira”. O documento não chega a dizer que “a nossa bandeira jamais será vermelha”, como dizem alguns reacionários que remetem ao período da Guerra Fria, mas usa outras palavras: “Queremos um Brasil com todas as cores: verde, amarelo, azul e branco”.
O plano de governo segue com uma narrativa falaciosa ao afirmar que o Brasil foi governado pela esquerda nos últimos 30 anos e afirma que um eventual governo de Bolsonaro “enfrentará o viés totalitário do Foro de São Paulo” que, segundo o candidato do PSL, teria “enfraquecido as instituições democráticas”. Sobre o Foro de São Paulo, saiba informações mais precisas nesta matéria da Fórum.
Economia
Ao introduzir o assunto “economia” no plano de governo, Bolsonaro segue com mais imprecisões: o candidato afirma que o Brasil “nunca” adotou, em toda a sua história, os princípios liberais que, segundo ele, serão mote de sua gestão na área econômica. O militar da reserva só não citou, no entanto, que os governos de FHC nos anos 90 foram marcados pelas privatizações, uma das principais marcas do liberalismo econômico. O deputado federal, inclusive, reafirma que trabalhará com as privatizações, sem especificar, no entanto, quais empresas e nem quantas pretende privatizar.
Neste ponto, o plano de governo credita ao “legado do PT”, de “ineficiência e corrupção”, o fato de que há uma previsão de déficit primário de R$139 bilhões para 2019, utilizando um gráfico que mostra a evolução do déficit desde 2015. O próprio gráfico, no entanto, desmente o candidato quanto ao “legado do PT”. O déficit começa a crescer, de fato, a partir de 2015, ano em que Dilma Rousseff assume seu segundo mandato e começa a ter seu governo paralisado pela oposição, que não aceitou o resultado das eleições. No ano seguinte, Dilma sofreu o impeachment que Bolsonaro apoiou e o déficit seguiu aumentando, como mostram os dados apresentados pelo próprio candidato.
Segurança Pública e elogio à ditadura
Com relação à Segurança Pública, Bolsonaro propõe, em seu plano de governo, medidas que tradicionalmente constam naqueles grupos de Whatsapp de direita e que têm pouco ou quase nenhum fundamento prático: fim dos “saidões” – permissão que presos têm para deixar a cadeia em datas como o dia das mães e o dia dos pais -, redução da maioridade penal para 16 anos e, claro, a facilitação do porte de arma. Até mesmo as frases de seu plano de governo remetem à bordões da direita populista: “Prender e deixar na cadeia!”.
Quanto ao porte de arma, o plano de governo de Bolsonaro cita a experiência de países com contexto social completamente diferente, como Suécia, Noruega e Finlândia.
Ainda no trecho em que fala sobre Segurança Pública, o candidato propõe criar um panteão homenageando os policiais mortos em ações na rua e faz uma homenagem às Forças Armadas do Brasil por terem impedido um “golpe comunista” com o que ele chamou de “Revolução de 1964”.
Educação
Na parte de Educação, a principal proposta de Bolsonaro é, mais uma vez, uma reprodução do discurso vazio antipetista: acabar com a “sexualização e doutrinação precoce” nas escolas.
Confira a íntegra do “plano de governo de Whatsapp” aqui.

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