Não André Luiz, Lula segue agindo do modo Lula de agir, e que consiste em dizer aquilo que seu interlocutor quer ouvir, e dá umas divergidas para parecer independente. O problema é que na geopolítica a coisa não corre assim, ela não é uma política do tipo que ele faz com o povo brasileiro, em que promete picanha e cerveja, mas entrega arrocho fiscal.
Sim, ele manteve várias posições do governo anterior, mas no principal da questão, no que concerne à política da coisa, ele condenou a entrada dos russos nos territórios que a Ucrânia bombardeava há oito anos, e onde ela já havia matado cerca de 14.000 pessoas, a maioria civis. E no caso, isso era exatamente o que Biden queria ouvir de Lula, já que outros interesses dos americanos o Lula já dava de bom grado, como a interferência na Amazônia.
Ele não tinha que ter condenado ninguém, nem em declarações, e muito menos na ONU. Ele tinha era que ter clamado às partes pela negociação, e se oferecido como interlocutor, sem declarar posição na contenda. No momento em que ele condena a Rússia ele perdeu qualquer representatividade para mediar a disputa. Já que gostam tanto de futebol hoje, é como se Corínthians x Palmeiras, ou Vasco x Flamengo, etc, fossem jogar, e o juiz do jogo declarasse torcer para um lado. O outro não o aceitaria como árbitro do conflito.
Na China a coisa tomou o mesmo rumo. O maior objetivo dos chineses é promover o comércio sem o dólar, movimento que aumenta a multipolaridade e enfraquece os EUA ao mesmo tempo. Pois bem, um dos reflexos do conflito na Ucrânia é justamente ter acelerado a mudança do dólar como moeda de valor internacional para trocas comerciais. E isso era uma coisa que Biden não aceitaria.
E nessa visita à China, o que poderia ter sido um soco na cara dos chineses, que junto com os russos são atualmente os maiores interessados no fortalecimento dos BRICS, foi sua condenação à Rússia.
Ele deveria ter condenado o conflito, como os próximos chineses já o fizeram, mas jamais a Rússia. E isso não tem a ver com alinhamento ou com posições do país, mas com geopolítica em si, e com a maneira Lula de ser, de prometer tudo a todos. Às vezes vale mais a pena ficar quieto, e fazer aquilo que interessa ao seu país, e não tentar agradar a todos. Ele não está lidando com esses politiqueiros de 2ª categoria do Brasil, na geopolítica o jogo é muito mais pesado, e as condições são muito diferentes daquelas em que Obama chamava Lula de "my man".
A passagem de Lula pela China evidencia que a atual política externa segue os parâmetros da melhor tradição do Brasil: independente, não-alinhada e ativa.
Lula foi primeiro aos EUA, firmou uma aliança com Biden, mas sem qualquer medida concreta de submissão geopolítica. Condenou a invasão russa, como tinha mesmo de condenar, mas sem apoiar sanções contra o país, sem voltar atrás nas críticas a Zelensky, insistindo na necessidade de conversas de paz, e negando ajuda militar à Ucrânia.
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