Após a declaração de Lula ao final de sua viagem aos Emirados Árabes Unidos parece ter ficado claro que ele compreendeu parte da verdade. A Ucrânia tem culpa no início do conflito com a Rússia, e eu diria que tem uma culpa enorme. Da mesma forma EUA e Europa também têm culpa no incentivo, no prolongamento, e no impressionante número de mortos, e diga-se de passagem a enorme maioria é de militares ucranianos, que ainda que mal treinados, mal armados e mal comandados, ainda assim são militares.
Mas essa aí é uma foto com foco único e exclusivo no conflito, porque o que se joga extrapola e muito o território onde ocorrem os confrontos armados, e ainda mais, porque extrapola mesmo os territórios dos dois contendores.
O que está em jogo são duas coisas principais. A primeira é a existência da própria Rússia como nação soberana. Mais do que um agente geopolítico global, como nação soberana, porque a aceitação de uma expansão ainda maior da OTAN poderia implicar em cisões internas intransponíveis no ideário russo. E isso se aplica à Ucrânia, já que é tido e aceito que a Rússia nasceu de Kiev, atual Ucrânia, e uma passagem deles para o outro polo teria um efeito catastrófico no ideário.
O outro ponto que se busca atingir é um ataque à China. A dissolução e enfraquecimento da Rússia significaria um isolamento da China, e possivelmente um possibilidade de sansões que teriam possibilidades de causar o caos no Estado asiático, já que embora com uma indústria poderosa e uma tecnologia que em muitos pontos já ultrapassa a ocidental, a China é extremamente dependente de várias matérias primas, alimentos e energia. Um isolamento chinês poderia tornar possível boicotes efetivos contra os chineses, e uma forte debilitação de sua posição.
Num confronto desses um país importante, mas militarmente débil como o Brasil não tem que tomar partido nem de A nem de B, mas sim buscar vantagens para si próprio, de forma a fortalecer-se tanto interna quanto externamente. As acusações irresponsáveis, que buscam apenas agradar o anfitrião de momento não servem para os interesses brasileiros, já que apenas desagrada os dois lados.
Internamente dá sinais de adesões que não se concretizam, mas que servem para mobilizar os torcedores e os ganhadores com os lados em disputa. Tal processo não apenas dificulta a própria governabilidade, como ainda move as partes a buscarem não apenas influenciarem no governo, mas em último caso substituí-lo por outro que esteja mais afeito aos interesses de seu grupo.
Como eu sempre digo, a política externa de qualquer país se inicia na interna, e não há política externa bem feita por quem não consegue nem mesmo estabilizar sua própria casa. Antes de Lula sair por aí fazendo declarações que não deveria fazer, ele antes deveria resolver a equação interna de poder, enfraquecer os contendores dos dois lados e fortalecer sua posição de forma a poder buscar soluções para o país.
Os interesses de uma classe, pior, de uma elite, normalmente estão longe de serem os interesses de uma país, de uma Nação, ainda mais quando essa elite é servição a elites estrangeiras.
Lula diz que EUA e Europa prolongam guerra na Ucrânia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou neste domingo (16/04) em Abu Dhabi os Estados Unidos e a Europa de prolongarem a guerra na Ucrânia e defendeu a criação de uma espécie de "G20 político" para restabelecer a paz.
"A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia, Volodimir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra", afirmou Lula, durante uma coletiva de imprensa no fim de sua viagem aos Emirados Árabes Unidos.
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