quarta-feira, 10 de julho de 2019

Moro e suas preferências

Sérgio Moro não apenas manteve conversas pouco republicanas, e às vezes criminosas com os membros da força tarefa da Lava-jato, ele também cometeu alguns crimes nessas conversas, inclusive de obstrução à Justiça.

Mas quem se prende às conversas se esquece que a grande maioria dessas conversas se traduziam em ações públicas, em decisões judiciais, em ações da PF e do MPF, em denúncias várias, todas devidamente abafadas, tanto pelas autoridades, que tinham a obrigação de investigar e coibir tais condutas, punindo os culpados pelos desvios cometidos, quanto pela mídia, que se fartou em vazamentos criminosos (não pela mídia, mas pelas autoridades), apoiou crimes, etc.

Comparo os atuais vazamentos e as ações da Lava-jato a uma quadrilha de assaltantes de banco. Então coloquemos hipoteticamente. Juntam-se alguns cidadãos e assaltam um banco, que lhes rende uma soma muito alta, e com ela interferem na economia local, causando o fechamento de lojas tradicionais, fábricas importantes, etc. O crime está aí, mas como eles pegam parte da grana e financiam campanhas políticas, investem pesadamente em propaganda no jornal local, fazem festinha com políticos, etc, o crime é deixado de lado. Então o crime são tratados como equívoco, como mal menor, algo perdoável. Isso até que alguém descobre os planos para o crime, que estavam esquecidos na gaveta de um deles, e os torna públicos num grande jornal de âmbito nacional, e num momento em que os apoiadores dos assaltantes estão mais fragilizados. Aí começam a dizer que os crimes são crimes.

Ora o caso contido nesse vazamento é nítido nesse sentido. Moro impediu que Cunha chamasse Temer a depor, impediu que ele se expressasse e exercesse sua defesa, que deu entrevistas nesse sentido, inclusive dizendo que ele não permitiria o constrangimento do Presidente, e que defendia um Presidente que também sofria com muitas acusações (e alguns indícios muito fortes) de corrupção, mas só agora perceberam que ele coibia o exercício da ampla defesa, e obstruía a Justiça?

O caso do vazamento de escuta ilegal de uma Presidenta da República não foi problema menor. Era caso de afastamento imediato e sumário das funções, abertura de processos vários (criminal, civil, corregedoria, etc.), mas jamais apenas para uma reprimenda branda, seguida a um pedido de desculpas esfarrapado.

Os vazamentos do The Intercept são importantes, mas é sério que no Brasil precisamos entrar no âmbito privado das pessoas para punir crimes cometidos publicamente?

Se é que eles serão punidos. E não venha me dizer que transferência para uma região afastada, ou uma posição considerada de menor importância seja uma punição, porque não é.






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