quinta-feira, 18 de março de 2021

Rachadinha virando uma enorme fenda

Apesar de a decisão do STJ de anular a quebra de sigilo bancário do Senador Flávio Bolsonaro ser parcial, até porque o Ministério Público já recorreu ao STF e isso pode ser novamente revertido, fato é que a quebra desse sigilo tem potencial de deixar de ser uma rachadinha, e se transformar numa enorme fenda, daquelas que os terremotos deixam nos filmes de Hollywood.

Isso porque apareceram indícios claros de que as ações também eram praticadas nos gabinetes do Presidente Jair Bolsonaro, do vereador Carlos Bolsonaro, e de uma ex-esposa do Presidente. Além disso já temos a atual esposa do Presidente envolvida com o recebimento de cerca de R$ 90.000, que a princípio também viriam dessas práticas ilícitas.

Mesmo que o atual Presidente não possa ser processado, ou mesmo retirado da Presidência nesse momento, isso certamente abalaria uma das últimas crenças que seus apoiadores ainda mantêm, que é a da incorruptibilidade do mandatário. Isso também aumentaria o espaço para um possível impeachment, porque se a rachadinha em outros mandatos não pode servir de base para o afastamento de Bolsonaro, motivos válidos para isso não faltam, mas falta ainda um pouco de condições políticas.

Sinceramente eu não consigo entender essa falta de condições políticas. O país está sentado em cima de uma montanha de 300.000 mortos (em poucos dias); a Economia segue absolutamente sem rumo, sem comando, e no meio de um furacão; o Ministério da Saúde totalmente desarticulado, desestruturado, e longe de cumprir sua função, no meio de uma pandemia; inícios claros de negociatas altamente lesivas à Nação precisam apenas serem investigadas para a recolha de provas; um arrocho salarial sem precedentes; a retirada de direitos históricos; e tudo isso sem nenhuma contrapartida. 

Mas mesmo com essas condições, o povo segue quase que inerte. O que ainda falta para se formar as condições políticas?

Anatomia da rachadinha

Quebra de sigilos do Caso Flávio revela indícios do esquema ilegal nos gabinetes de Jair e Carlos Bolsonaro

AMANDA ROSSI, FLÁVIO COSTA, GABRIELA SÁ PESSOA E JULIANA DAL PIVADO UOL, EM SÃO PAULO E NO RIO

A quebra de sigilos bancário e fiscal de pessoas e empresas ligadas ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) revela indícios de que o esquema da rachadinha também ocorria nos gabinetes do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando este era deputado federal, e do irmão, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Os dados apontam ainda a existência de transações financeiras suspeitas realizadas pela segunda mulher do presidente, Ana Cristina Siqueira Valle.

UOL teve acesso às quebras de sigilo em setembro de 2020, quando ainda não havia uma decisão judicial contestando a legalidade da determinação da Justiça fluminense, e veio, desde então, analisando meticulosamente as 607.552 operações bancárias distribuídas em 100 planilhas -uma para cada um dos suspeitos. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou o uso dos dados resultantes das quebras de sigilos no processo contra Flávio, mas o Ministério Público Federal recorreu junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). O UOL avalia que há interesse público evidente na divulgação das informações que compõem estas reportagens.

Procurados desde quarta-feira (10) por email, telefone e mensagem de WhatsApp, Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro não responderam aos questionamentos da reportagem.

Em quatro reportagens publicadas hoje, o UOL detalha uma série de operações suspeitas de assessores da família Bolsonaro, caracterizadas pelo uso de grandes volumes de dinheiro em espécie.


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