quarta-feira, 6 de abril de 2022

Explicação e posicionamentos

Aqueles que me acompanham às vezes podem achar que eu demoro um pouco para me posicionar. Minha posição vem em forma de análise, ainda que possa ser confundida com minhas posições pessoais. Eu também busco me posicionar em cima de fatos realmente concretos, não de possibilidades, ainda que elas tenham enorme potencial de se concretizarem.

Por isso não comentei os movimentos de Moro e Dória de desistirem da corrida presidencial na última semana. Vi muita gente sair comentando, analisando novas possibilidades eleitorais, novas articulações das forças partidárias em torno da disputa pela cadeira mais importante do país.

Pois bem, Dória não era candidato de manhã, e voltou a sê-lo a tarde, tendo inclusive garantido a renúncia ao governo paulista, para se dedicar exclusivamente à tentativa de consolidar sua candidatura à presidência. Da mesma forma Moro não era mais candidato num dia, e no seguinte, tal qual Dória, ele desmentiu o que tinha afirmado categoricamente dando inclusive os motivos para sua desistência da corrida.

Então, por causa dessa volatilidade da atual política brasileira, onde ideologia não existe mais, onde o que importa é apenas assumir um cargo e ter acesso às chaves do cofre, bem, com esse quadro maior, temos que esperar que as posições se consolidem minimamente.

Assim Dória não conquistou nada. Talvez tenha apenas piorado um pouco sua situação interna no quebrado PSDB. Seu "blefe" de não disputar a Presidência conquistou uma carta do presidente do partido, mas o próprio Dória já fez carta prometendo ficar até o final do mandato de prefeito de São Paulo, e renunciou 2 anos depois para disputar o governo do estado. Então o que Dória conquistou foi uma carta, que será rasgada sem nenhuma solenidade, caso as forças internas indiquem a quebra da decisão tomada nas prévias psdbistas.

Já Moro ficou numa situação mais delicada. Ele simplesmente se filiou ao União Brasil sem nem ao menos comunicar o Podemos - que apostava em sua candidatura à presidência - e para isso fez declarações públicas de que abria mão de sua candidatura ao cargo máximo da nação. De quebra levou a "conja", que no dia 30/03 se filiou ao Podemos para ser uma puxadora de votos em São Paulo (palavras da presidente da legenda, Renata Abreu), e no dia 31/03 se filiou ao União Brasil seguindo o "conjo". Tal qual Dória também prometeu se afastar da corrida presidencial num dia, e no seguinte disse que não disse o que tinha dito.

Moro se complica muito mais porque saiu como traidor do Podemos, entrou como traidor no União Brasil, e pode ficar sem candidatura nenhuma, porque já existe uma corrente - forte, por sinal - que quer anular a filiação de Moro ao partido. Caso isso ocorra o ex-Juiz suspeito, o ex-Ministro da Justiça enrolado, e ex-candidato à Presidência incompetente pode ficar sem candidatura nenhuma. Basta ele insistir nessa história de ser Presidente da República, e os caciques do União Brasil tomarem a decisão de anular sua filiação, e será muito difícil para ele reverter essa situação.

Política é o palco preferido da deusa Lissa (da loucura), em que muitas vezes decisões da mais alta importância são tomadas pelo fígado, e não pelo cérebro, e tanto Moro podem realmente vir a serem candidato à Presidência esse ano, mas pelas últimas movimentações dos dois, ainda que o consigam, terão imensa dificuldade de unir seus próprios partidos, imaginem o eleitorado?

Eduardo Leite

Esse é outro que atua de forma bastante atabalhoada na política. Eleito governador do Rio Grande do Sul, em meio ao mandato já vinha articulando uma possível candidatura à presidência, mas tudo contra ao que ele vem fazendo.

Derrotado nas prévias do PSDB por João Dória, Leite seguiu articulando e mobilizando quadros dentro do partido por sua candidatura, a ponto de criar a crise que quase acabou de vez com o partido de centro direita - social democrata eles nunca foram e hoje já tendem a uma direita mais tradicional. 

E Leite fez tudo isso ao negociar uma ida para outro partido e refutar isso no último momento, ao seguir mobilizando quadros do PSDB por sua candidatura presidencial após perder as prévias, e ao seguir aplicando o mesmo discurso tacanho que o levou ao governo do RS. Verdade que sua aproximação com Bolsonaro deu bons frutos na época, mas o fato de uma posição errada dar um resultado bom para si mesmo não significa que isso se repetirá em outras oportunidades, porque elas nunca são iguais. 

Assim Leite agora se compara a Macron e Zelensky, duas das figuras mais execráveis da política mundial. O primeiro perdeu a última eleição na Argentina, não sem antes ter destruído de vez a já frágil economia hermana (que foi mal conduzida pelo atual peronismo/macrismo). O segundo é um irresponsável, que usa o próprio povo como escudo numa guerra que fez de tudo para provocar, endivida seu país de forma assustadora, e segue numa diplomacia de morde-assopra que apenas leva o Leste europeu a mais tumulto e instabilidade. Claro que há apoio e suporte de outros governos a esses posicionamentos, mas isso não o exime da responsabilidade que deveria ter tido desde o início.

A propósito, ambos não passam de estafetas do chamado "deep state" norte americano, algo que Leite parece ávido em ser também.

Terceira via se consolida?

Bem, a resposta a essa pergunta é bem complexa, e a meu ver é sim e não. Sim, ela se consolida com um candidato único. Acredito realmente que Simone Tebet, João Dória, Sérgio Moro, e outros dois ou três postulantes a esse posto se unam em torno de um nome único, e que algum dos outros venha como vice na chapa.

Mas não, não acredito que eles se viabilizem nem mesmo como possibilidade de ameaçara a terceira posição de Ciro Gomes, quanto mais à liderança de Lula e Bolsonaro nas pesquisas.

Há uma confusão entre a atual situação brasileira e a dos EUA nas últimas eleições. Aqui temos muitos partidos, mas pouquíssima diferença ideológica entre eles. Os EUA tem 2 partidos, com pouca diferença entre eles, mas com bastante diferença interna neles.

E essa é a questão, porque nos EUA vinha se consolidando os extremismos tacanhos de Trump contra a social democracia de Bernie Sanders. Biden surge quebrando o extremismo trumpista, e garantindo parte das soluções sociais democratas de Sanders. Ele aparece como uma terceira via, intermediária entre os dois lados.

No Brasil temos um lado com as mesmíssimas propostas, e apenas alguns adereços pessoais (ou ideológicos) a separá-los. Lula, Bolsonaro, e todos os candidatos da chamada 3ª via defendem exatamente o mesmo modelo econômico, e apenas diferem na quantidade de política compensatória que pretendem dar à população. O único que quebra com isso é Ciro Gomes, que parte das mesmas políticas compensatórias propostas por Lula, mas com um projeto de desenvolvimento que proporcionará cada vez mais que essas políticas sejam reduzidas, porque dará real emancipação ao povo, através de trabalho bem remunerado, e possibilidades reais de empreendimento.

Temos duas vias, uma neoliberal entreguista, com pequenas nuances que diferenciam os candidatos dessa via, e temos uma via desenvolvimentistas nacionalista, que é representada pelo PDT e Ciro Gomes. Não há terceira via, e por isso os candidatos que dizem ser desse campo não emplacam. Moro, Dória, Tebet, etc, todos dizem ser liberais na economia. Isso Lula e Bolsonaro também são, e a economia é o mais importante na vida de todos, porque é por ela que você consegue comer, morar, vestir, ter médico, remédio, condução, etc.


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