quarta-feira, 25 de maio de 2022

Estagflação continuará?

O que está errado com o Brasil?

Bem, a grosso modo é algo que está errado com o mundo ocidental, que é um processo de desindustrialização acentuado. No Brasil esse processo atingiu indústrias de média complexidade, que basicamente é o nosso consumo popular, enquanto nos países mais desenvolvidos permanece uma indústria mais complexa, que dá ganhos de valor agregado mais alto. E o nosso problema é que temos pouquíssimas indústrias de alta complexidade.

E é verdade que o mundo vive um processo de inflação, que pode levar a uma desestabilização profunda no tecido político-social ocidental. Também vivemos um processo por mudança de eixo da liderança mundial, que tende a se deslocar da unipolaridade representada pelos EUA, e coadjuvada, cada vez com menos importância, pela UE, para um mundo multipolar, em que EUA e UE continuariam a ter sua importância, ainda que diminuídas, mas também potências regionais teriam mais influência. Brasil, África do Sul, Rússia, China, Argentina, Índia, e mais algumas nações teriam mais representatividade e influência nesse mundo que é chamado de multipolar. Inclusive isso se refletiria na ONU, que precisaria ser revista.

Tudo isso é um embate, porque quem perde poder tende a resistir a isso, e a chamada nova ordem mundial ainda não está imposta, e nem temos certeza se ela irá realmente se consolidar. Só que enquanto o destino do mundo não se defini, as crises acontecem, e como sempre quem paga é o povo.

Por isso é importante colocar esse quadro, porque nos últimos 30 anos o Brasil entrou de cabeça nesse sistema mundial e abriu mão de todas as salvaguardas que são necessárias a enfrentar tempos de crise. O pior, segue abrindo mão disso. Claro que nem todo o país sofre com isso, já que ao abrir mão dessas salvaguardas, uma parte ínfima da população se beneficiou demais com o processo, e hoje contam com uma autoproteção muito grande contra qualquer adversidade que possamos ter.

Como eu disse acima, o Brasil segue abrindo mão de suas salvaguardas, segue se juntando a um mundo que já não existe, e pior, pouco discute essas decisões, as instituições e atores sociais que mais deveriam promover este debate o interditam, e essa interdição já criou o fenômeno de não temos crescido (na verdade reduzimos o tamanho de nossa economia) nos últimos 12 anos, e devemos seguir nesse processo, ainda mais acentuado, já que é um sistema que visa atender aos interesses de ao menos uma parte da população.

Isso tudo nos leva à situação atual, onde os remédios usados contra a doença na verdade foram sua causa. O resultado é o aprofundamento e continuação dos problemas. Nada indica que iremos sair dessa armadilha, e nada indica que o país terá um futuro melhor. Claro, uma pequeníssima parte da população poderá vir a ter, mas uma pequeníssima parte da população não pode ser confundida com o país, muito menos com a economia desse país. A verdade é que o Brasil vai mal, e cada vez pior, e os juros exorbitantes que são pagos pelo governo brasileiro, e que não têm nenhum efeito numa inflação que não tem nenhuma causa no excesso de consumo é apenas prova disso tudo.

Campeão em juros no mundo, Brasil vai crescer pouco e criar menos empregos

Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

14/05/2022 04h00

Em meio aos esforços do Banco Central para segurar a disparada dos preços, o Brasil voltou a ter os juros reais (descontada a inflação) mais altos do mundo. Dados da Infinity Asset e do portal MoneYou mostram que os juros reais no país já estão em 6,69% ao ano. O percentual é quase cinco vezes o verificado na Rússia (1,36%), por exemplo, que está em guerra com a Ucrânia.

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