segunda-feira, 2 de maio de 2022

O brasileiro é isso aí?

Eu discordo um pouco. Muitos dos argumentos são corretos, afinal de contas, o atual Presidente segue com seu núcleo duro firme e praticamente inabalável, e ainda tem mostrado alguma reação nas últimas pesquisas. Mas há 2 incoerências nessas afirmações finais, porque embora partindo de observações empíricas até corretas, chega a conclusões desviadas.

A primeira é que a academia de alguém, o local de trabalho de alguém, ou mesmo os amigos de alguém, não são um reflexo da sociedade em geral, mas tão somente dos ambientes em que a própria pessoa convive. E isso ainda que o núcleo duro se mantenha. Da mesma forma que se mantêm núcleos de extrema-direita em toda e qualquer sociedade, estejam eles organizados ou não.

A segunda é a falácia de que uma eleição define o que é um povo. Bem, um povo é uma massa social em constante evolução e mudança. A alusão às falácias de um povo "ordeiro" e de um povo "passivo-pacifico" que foram amplamente divulgados nas artes e até mesmo por parte das Ciências Sociais brasileiras não se sustentam na prática. Balaiada, Sabinada, Alfaiates, Farrapos, 1889, 1930, 1932, 1935, 1937, 1945, 1964, as manifestações de 2013, entre outras, foram todas revoltas armadas, golpes e mobilizações populares, que mostram o caráter bastante belicoso do brasileiro, como é o de qualquer outro povo.

E aqui o que falta ao brasileiro não é disposição e vontade de ascender, mas uma elite que compactue com isso, e que apoie tal empreendimento.

Nesse contexto a queda de popularidade de Bolsonaro não se deveu a seus posicionamentos fascistoides, mas sim ao fato de não ter entregado aquilo que prometeu. Mas seu crescimento também mostra que o povo não estava de forma alguma satisfeito com o que vinha acontecendo. O crescimento de Bolsonaro está mostrando não é apenas uma tendência para a eleição, que pode ser a virada do atual Presidente nas urnas, mas uma insatisfação geral dos brasileiros mais pobres sobre os últimos 30 anos vividos, quando sob um simulacro de democracia, a grande maioria da população brasileira sempre esteve alijada de qualquer possibilidade de real participação na divisão  das riquezas do país, sejam elas produzidas ou retiradas de nossas imensas reservas naturais.

Então, não é uma eleição que vai definir o brasileiro. Uma eleição pode definir o que o brasileiro sente num determinado momento. Nada mais do que isso.




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